Desde sempre, tenho uma ligação
muito especial com o Natal. Mesmo sendo, como sabe-se, ateu. Minha ligação com
o Natal, e com o Ano Novo, é muito mais familiar do que espiritual; tento na
medida do possível não acreditar em nenhum tipo de misticismo, seja ele de
qualquer natureza. As Festas, em casa, sempre, ao menos no olhar da criança,
foram uma oportunidade momentânea de se enterrar a machadinha e reunir um grupo
de pessoas que compartilham ligações genéticas e sanguíneas, além das ligações
de afetividade. Se de fato tudo não passava de um jogo de cena, não estou
disposto a especular e nem explorar.
Resumindo: mesmo carregando
enormes críticas ao pensamento mágico e à ética do capital, eu gosto muito do
Natal.
Dezembro sempre fora para uma
época de alegria e festa na minha família, afinal além das festas de final de
ano ainda temos os aniversários das minhas mãe e avó, e de um tio. Nesse ano,
adicionamos, ainda, o do um sobrinho meu.
Esse ano, porém, o Natal ganhou
uma representatividade ainda maior: depois de meses de terapia e anos tomando
remédio, meu tratamento farmacológico chega ao fim. Para quem não sabe, tenho
depressão crônica recorrente.
Isso não significa que estou de
alta, ou algum tipo de cura. Apenas significa que estou aprendendo
positivamente a viver com a minha condição e que estou suportando as
deficiências na produção de determinados neurotransmissores do meu cérebro sem
me entregar completamente à paralisia e ao em-si-mesmamento. Não sei dizer, ao
certo, se estou feliz, afinal uma das consequências da depressão é justamente
não reconhecer a felicidade, mas estou muito contente em ter conseguido chegar
a esse ponto, afinal em vários momentos durante o tratamento eu me questionei
se conseguiria, por minhas próprias pernas, chegar nesse estágio. É um passo
enorme na busca pelos meus equilíbrio e saúde emocionais.
Então para celebrar esse passo,
resolvi fazer algo simbólico: seguindo as recomendações do meu psiquiatra,
resolvi jogar fora os remédios sobressalentes que ainda tinha. E como tal,
aproveitando o espírito da época, fiz de uma maneira que fizesse
reconectando-me com a criança latente/dormente interior em mim: tal como
aprendi a dar tchau para o cocô no vaso sanitário, descartei as pílulas no
mesmo, dei a descarga e me despedi de um dos mais complexos e intricados
períodos da minha vida.
Posso dizer, sem medo, que foi uma
satisfação enorme fazer o descarte...
E o resto é vida que segue.
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