Mais uma noite, outra como tantas outras, que passaria em
claro. Já fizera de tudo: lera, pensara, rolara. De tudo mesmo. Meus pés
sentiam uma grande autonomia, iam a lugares inesperados. Sentia o desespero de
mais uma noite em claro. O céu não era o mesmo, sabia sim muito bem. Não apenas
amarrado na teoria física. O céu não era o mesmo posto que não fosse, ele, o
mesmo. Sua vida uma eterna linha continua. Linha não, círculo. Continua, não
havia secções nela. Havia, sim, progressos e regressos, mas era uma linha
(círculo) e continua.
Quando os pés se acalmaram ele fora deitar-se mais uma vez.
A mesma vista de todos os dias. Borges de cabeceira (Ficções e O
Aleph), o despertador, barulhento e incomodo, e a luminária. Tudo isso em
um criado mudo, que no Rio Grande do Sul se chama bidê, herdado de uma tia avó.
O sono não vinha apenas o sonho. Ou a vontade de sonhar de
ali não mais retornar. Havia algo de estranho em sua cama. Algo que lhe causava
angústia e repugnância. Talvez fosse a rotina: dormia lá desde que não dormia
mais em berços. O problema da insônia seria a cama, ou seu ocupante? Dúvida
compartilhada por ele inclusive. A sensação de cansaço, de derrota, de
dormência, o vence. Estava mergulhando no reino de Morfeus.
Quando um som estridente, um som indesejado, invade lhe o
quarto. Não vale o esforço literário de descrever qual fora esse som. Sua
definição fora logo ignorada, o que foi relevante fora o despertar provocado.
Não iria dormir. Estava acabado. Estava entregue. Estava rendido. Estava
vencido.
E de tão vencido acabo dormindo.
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