segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Festa da Democracia


A intenção desse texto é apresentar um breve e pequeno balanço sobre as eleições majoritárias desse ano. Antes de mais nada, e que você saia me xingando ou qualquer coisa do tipo, acho necessário abrir meu voto, então eis-los: Luciana Genro (primeiro turno para presidente), Dilma Rousseff (segundo turno para presidente), Eduardo Suplicy (senador), Alexandre Padilha (governador), Legenda do PSol (deputado estadual e federal). Como podemos perceber, meus votos foram mais à esquerda, voltado para um projeto mais progressista e com o viés de desenvolvimento social, não que eu veja necessidade de justifica-los, ainda mais aqui.
Os dois votos mais difíceis para mim foram para governador e no segundo turno presidencial. Segundo o primeiro, a grande dificuldade era ter que escolher algum candidato de peso e força que pudesse ao menos forçar um segundo turno, afinal o projeto tucano em São Paulo sofre de certo comodismo e um senso de perpetuamento no poder; um segundo turno, e uma expectativa real de perder o Palácio dos Bandeirantes fariam o PSDB paulista fazer uma autocritica mais profunda; infelizmente não aconteceu, acredito muito pelo fato do PMDB e do PT em São Paulo não terem se unido para o pleito estadual, além do PSol ter lançado Gilberto Maringoni ao invés de Vladimir Safatale para concorrer ao cargo (Safatale tem mais penetração com o público médio, afinal ele tem colunas tanto na Folha de São Paulo quanto na Carta Capital, além de carregar muitos votos por ser professor do instituto mais politizado da USP).

O segundo turno presidencial para mim foi um verdadeiro tormento. Primeiro por ser contra o segundo turno, acredito que deveríamos valorizar mais as coligações e os partidos, em termos ideológicos, afim de que não seja necessário o custo de uma segunda eleição dentro de uma eleição. O modelo italiano, onde partidos se aglutinam em chapas majoritárias fortes, criando projetos fortes, seria o necessário. Uma medida dessa faria diminuir, na minha singela opinião, a crise de representatividade que vivemos. Ter que escolher entre Dilma e Aécio Neves foi muito difícil, deveras difícil. Acredito que vivemos um momento delicado, tanto socialmente quanto economicamente, e uma mudança urge, basta ouvir as vozes da rua, que nunca se calaram. Ter que escolher entre PSDB e PT é um problema complicado, afinal são partidos que, majoritariamente, representam o mesmo tipo de pensamento, a social-democracia, a grande diferença entre ambos é que, aparentemente, o PT defende mais o social quanto o PSDB defende mais a economia. Claro, que há correntes internas em ambos os partidos mais à direita, ao centro e à esquerda, mas no bojo, no frigir dos ovos, são ambos do mesmo campo.
Ficamos de frente de dois modelos para o futuro do Brasil: um calcado em um desenvolvimento social e outro calcado em um desenvolvimento econômico. Se pararmos para pensar, um não existe sem o outro. Simplesmente é impossível desenvolver os índices sociais sem desenvolver a economia, e o caminho inverso também é extremamente importante. Imagine uma economia altamente desenvolvida mas sem mercado interno, sem poupança interna? É impossível.
No final, o meu voto foi mais um veto do que propriamente um voto. Votei na Dilma para não votar no Aécio. Simples. Tanto que meu primeiro instinto ao escolher o candidato no segundo turno era votar em branco, ou seja, para mim tanto fazia escolher entre um e outro. Ai que entrou a questão do veto, afinal em uma eleição tão apertada como esse, talvez a mais apertada da Nova República, qualquer voto poderia fazer a diferença, ainda mais esse humilde escriba estando em São Paulo.
O resultado já sabemos: Dilma ganhou, por uma diferença de pouco mais de 3 milhões de votos. Algo que me chamou muito atenção depois da divulgação dos resultados foram os discursos dos vencedores e vencidos: ambos falaram em união para melhorar o Brasil. E realmente esse é, e seria, o grande desafio do próximo governo: unir o país depois dele ter sido cingindo em dois por conta dessa disputa de poder. Desde de 1989 não víamos uma polarização entre “nós” e “eles” tão forte. A disputa caiu em um maniqueísmo brabo, dividiram o país entre ricos e pobres, beneficiários de programas sociais e os não benificiários, norte e sul, entre outras divisões. Pensar que o voto tem essas características é no mínimo ingenuidade. Pego-me como exemplo, nunca precisei diretamente de nenhum benefício social ou econômico, seja do município, do estado ou da federação, mas mesmo assim votei por aqueles que precisam. Assim como muita gente que precisa programas votaram contra o PT. Esses programas sociais e de transferência de riqueza, com seus respectivos defeitos e erros, são fundamentais para o país como um todo. Pensar que o Bolsa Família é um instrumento de controle, ou de perpetuação da pobreza é de uma vilania muito grande. O valor do benefício é entre R$ 70,00 e R$ 175,00 (segundo dados da Caixa conforme o link: http://www.caixa.gov.br/voce/social/transferencia/bolsa_familia/como_receber.asp) é muito pequeno para que uma família se acomode em simplesmente não trabalhar e viver apenas do Bolsa Família. Faça um exercício, você que crítica quem recebe o benefício, tente sobreviver com o valor máximo dele por um mês. Bate um desespero, não? Em mim, pelo menos, bate...
Voltando à divisão nacional, nunca na história desse país (piadinha para descontrair) houve um ódio e um ranço tão grande, pelo menos em tempos democráticos, tão grande como agora; talvez possamos igualar apenas o governo eleito de Getúlio Vargas possa ter sido assim tão cingido quanto o dessa eleição. Houveram barbaridades e terrorismo de ambos os lados, de todos e contra todos os envolvidos. Pessoas querendo separar o Sul e Sudeste do país, nordestinos dizendo que salvaram o país de um desastre, acusações de quem vota no PT é burro, que de que adianta protestar e continuar tudo na mesma, até alguns celerados que defenderam a volta da ditadura. Esse movimento assusta quem, como eu, é no mínimo progressista. A decisão do voto, idealmente, deveria ser apenas ideológica. Apenas e nada mais. Mas não vemos isso, de maneira nenhuma. Vemos muita propaganda, muito ódio, um esvaziamento do debate político, aliás, alguém mais percebeu que durante os programas e debates houve um baile murcho de ideais e uma verdadeira rave para descobrir quem é mais ou menos corrupto? A quem favorece esse tipo de discurso? À própria classe política, perpetuada no poder por manobras vis.
Se pegarmos essa eleição e as jornadas de julho de 2013, podemos perceber que há uma urgência por mudanças, que vivemos uma crise de representatividade muito grande, e que eleger as mesmas pessoas é um voto na mudança de postura e de ideias, e não uma mera mudança de nomes apenas, e que como não surgiu nenhum nome novo, dos candidatos a presidente, por exemplo, o único que talvez fosse mais desconhecido do público fosse o pvista Eduardo Jorge, apostou-se que aquele que parecesse com mais cara de quem pudesse fazer uma mudança, qualquer mudança, acabaria levando. Não é à toa que ambos os slogans de campanha levavam a palavra mudança em si.

Acredito que os próximos anos serão bem complicados para o nosso país. Nossa economia começa a dar sinais de estagnação, há uma certa dúvida no ar se vamos conseguir sair dessa estagnação ou não. Será uma boa oportunidade para fazer-se as obras públicas de infraestrutura que precisamos fazer. Além de avançar ainda mais no campo social, na inclusão social e no melhor a condição de vida de TODOS os brasileiros, não apenas da classe A ou E. Apesar de todo medo, eu tenho esperança, o grande mal dos sonhadores, que dias melhores virão, mesmo com representantes que não me representam.

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