A intenção desse texto é
apresentar um breve e pequeno balanço sobre as eleições majoritárias desse ano.
Antes de mais nada, e que você saia me xingando ou qualquer coisa do tipo, acho
necessário abrir meu voto, então eis-los: Luciana Genro (primeiro turno para
presidente), Dilma Rousseff (segundo turno para presidente), Eduardo Suplicy
(senador), Alexandre Padilha (governador), Legenda do PSol (deputado estadual e
federal). Como podemos perceber, meus votos foram mais à esquerda, voltado para
um projeto mais progressista e com o viés de desenvolvimento social, não que eu
veja necessidade de justifica-los, ainda mais aqui.
Os dois votos mais difíceis para
mim foram para governador e no segundo turno presidencial. Segundo o primeiro,
a grande dificuldade era ter que escolher algum candidato de peso e força que
pudesse ao menos forçar um segundo turno, afinal o projeto tucano em São Paulo
sofre de certo comodismo e um senso de perpetuamento no poder; um segundo
turno, e uma expectativa real de perder o Palácio dos Bandeirantes fariam o
PSDB paulista fazer uma autocritica mais profunda; infelizmente não aconteceu,
acredito muito pelo fato do PMDB e do PT em São Paulo não terem se unido para o
pleito estadual, além do PSol ter lançado Gilberto Maringoni ao invés de
Vladimir Safatale para concorrer ao cargo (Safatale tem mais penetração com o
público médio, afinal ele tem colunas tanto na Folha de São Paulo quanto na
Carta Capital, além de carregar muitos votos por ser professor do instituto
mais politizado da USP).
O segundo turno presidencial para
mim foi um verdadeiro tormento. Primeiro por ser contra o segundo turno,
acredito que deveríamos valorizar mais as coligações e os partidos, em termos
ideológicos, afim de que não seja necessário o custo de uma segunda eleição
dentro de uma eleição. O modelo italiano, onde partidos se aglutinam em chapas
majoritárias fortes, criando projetos fortes, seria o necessário. Uma medida
dessa faria diminuir, na minha singela opinião, a crise de representatividade
que vivemos. Ter que escolher entre Dilma e Aécio Neves foi muito difícil,
deveras difícil. Acredito que vivemos um momento delicado, tanto socialmente
quanto economicamente, e uma mudança urge, basta ouvir as vozes da rua, que
nunca se calaram. Ter que escolher entre PSDB e PT é um problema complicado,
afinal são partidos que, majoritariamente, representam o mesmo tipo de
pensamento, a social-democracia, a grande diferença entre ambos é que,
aparentemente, o PT defende mais o social quanto o PSDB defende mais a
economia. Claro, que há correntes internas em ambos os partidos mais à direita,
ao centro e à esquerda, mas no bojo, no frigir dos ovos, são ambos do mesmo
campo.
Ficamos de frente de dois modelos
para o futuro do Brasil: um calcado em um desenvolvimento social e outro
calcado em um desenvolvimento econômico. Se pararmos para pensar, um não existe
sem o outro. Simplesmente é impossível desenvolver os índices sociais sem
desenvolver a economia, e o caminho inverso também é extremamente importante.
Imagine uma economia altamente desenvolvida mas sem mercado interno, sem
poupança interna? É impossível.
No final, o meu voto foi mais um
veto do que propriamente um voto. Votei na Dilma para não votar no Aécio.
Simples. Tanto que meu primeiro instinto ao escolher o candidato no segundo
turno era votar em branco, ou seja, para mim tanto fazia escolher entre um e
outro. Ai que entrou a questão do veto, afinal em uma eleição tão apertada como
esse, talvez a mais apertada da Nova República, qualquer voto poderia fazer a
diferença, ainda mais esse humilde escriba estando em São Paulo.
O resultado já sabemos: Dilma
ganhou, por uma diferença de pouco mais de 3 milhões de votos. Algo que me
chamou muito atenção depois da divulgação dos resultados foram os discursos dos
vencedores e vencidos: ambos falaram em união para melhorar o Brasil. E
realmente esse é, e seria, o grande desafio do próximo governo: unir o país
depois dele ter sido cingindo em dois por conta dessa disputa de poder. Desde
de 1989 não víamos uma polarização entre “nós” e “eles” tão forte. A disputa
caiu em um maniqueísmo brabo, dividiram o país entre ricos e pobres,
beneficiários de programas sociais e os não benificiários, norte e sul, entre
outras divisões. Pensar que o voto tem essas características é no mínimo
ingenuidade. Pego-me como exemplo, nunca precisei diretamente de nenhum
benefício social ou econômico, seja do município, do estado ou da federação,
mas mesmo assim votei por aqueles que precisam. Assim como muita gente que
precisa programas votaram contra o PT. Esses programas sociais e de
transferência de riqueza, com seus respectivos defeitos e erros, são
fundamentais para o país como um todo. Pensar que o Bolsa Família é um
instrumento de controle, ou de perpetuação da pobreza é de uma vilania muito
grande. O valor do benefício é entre R$ 70,00 e R$ 175,00 (segundo dados da
Caixa conforme o link:
http://www.caixa.gov.br/voce/social/transferencia/bolsa_familia/como_receber.asp)
é muito pequeno para que uma família se acomode em simplesmente não trabalhar e
viver apenas do Bolsa Família. Faça um exercício, você que crítica quem recebe
o benefício, tente sobreviver com o valor máximo dele por um mês. Bate um
desespero, não? Em mim, pelo menos, bate...
Voltando à divisão nacional, nunca
na história desse país (piadinha para descontrair) houve um ódio e um ranço tão
grande, pelo menos em tempos democráticos, tão grande como agora; talvez
possamos igualar apenas o governo eleito de Getúlio Vargas possa ter sido assim
tão cingido quanto o dessa eleição. Houveram barbaridades e terrorismo de ambos
os lados, de todos e contra todos os envolvidos. Pessoas querendo separar o Sul
e Sudeste do país, nordestinos dizendo que salvaram o país de um desastre,
acusações de quem vota no PT é burro, que de que adianta protestar e continuar
tudo na mesma, até alguns celerados que defenderam a volta da ditadura. Esse
movimento assusta quem, como eu, é no mínimo progressista. A decisão do voto,
idealmente, deveria ser apenas ideológica. Apenas e nada mais. Mas não vemos
isso, de maneira nenhuma. Vemos muita propaganda, muito ódio, um esvaziamento
do debate político, aliás, alguém mais percebeu que durante os programas e
debates houve um baile murcho de ideais e uma verdadeira rave para descobrir quem é mais ou menos corrupto? A quem favorece
esse tipo de discurso? À própria classe política, perpetuada no poder por
manobras vis.
Se pegarmos essa eleição e as
jornadas de julho de 2013, podemos perceber que há uma urgência por mudanças,
que vivemos uma crise de representatividade muito grande, e que eleger as mesmas
pessoas é um voto na mudança de postura e de ideias, e não uma mera mudança de
nomes apenas, e que como não surgiu nenhum nome novo, dos candidatos a
presidente, por exemplo, o único que talvez fosse mais desconhecido do público
fosse o pvista Eduardo Jorge, apostou-se que aquele que parecesse com mais cara
de quem pudesse fazer uma mudança, qualquer mudança, acabaria levando. Não é à
toa que ambos os slogans de campanha levavam a palavra mudança em si.
Acredito que os próximos anos
serão bem complicados para o nosso país. Nossa economia começa a dar sinais de
estagnação, há uma certa dúvida no ar se vamos conseguir sair dessa estagnação
ou não. Será uma boa oportunidade para fazer-se as obras públicas de
infraestrutura que precisamos fazer. Além de avançar ainda mais no campo
social, na inclusão social e no melhor a condição de vida de TODOS os
brasileiros, não apenas da classe A ou E. Apesar de todo medo, eu tenho
esperança, o grande mal dos sonhadores, que dias melhores virão, mesmo com
representantes que não me representam.
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