Muito se fala da qualidade da
escola (pública) brasileira, que acredito não ser o monstro que todos pintam, e
da falta de professores, e desses se crítica a motivação e o empenho deles. Ai
há dois aspectos bem diferentes: o primeiro se resolveria com uma reforma do
sistema educacional brasileiro, que hoje visa apenas a formação de
profissionais e a perpetuação do status
quo social; o segundo é um ponto mais profundo, talvez uma mudança de
mentalidade e uma política de avanços trabalhistas.
Um dos calcanhares de Aquiles da
educação é a figura do professor. Totalmente idealizado ao longo do século 20,
a imagem do professor passa por uma crise sem procedentes. Somos tachados de
abnegados, fazedores de um bem maior, guias para o sumo-saber, entre outros
predicados que nos aproximariam cada vez mais das sacerdotisas apolíneas.
Claro, que há o fator de
transmissão de saber, mas o professor antes de tudo é um fomentador de saber.
Ele seria uma espécie de empreiteiro do conhecimento. Só há professores se há
alunos.
A grande questão dos professores
no Brasil está em uma simples pergunta: quem quer ser professor hoje em dia por
aqui? É uma pergunta muito importante de ser levantada. Há um descaso
generalizado com o professor, e não apenas do governo com ele. Perdemos,
gradativamente, nossa autoridade sobre a sala de aula, contradiga um aluno para
não ver o escarcéu que pode se armar, perdemos a nossa valorização salarial e
intelectual, e fora que a educação cada vez maior voltada para o ensino
profissionalizante, e apostilado, a ideia de professor passa a cada vez ser
mais negligenciada.
O problema é assaz grave. Na
academia, por exemplo, percebe-se cada vez a formação para si própria de campos
onde a formação de professores é imprescindível. A academia forma acadêmicos. A
distância cada vez maior entre o ensino superior e o ensino base tem
contribuído, e muito, para esse problema.
Nas universidades brasileiras, o
inventivo à prática do ensino base vem minguando dia após dia, levando a um
verdadeiro esvaziamento de futuros profissionais da educação, se eles forem
direcionados para o ensino público então, é raro encontrar um ingressante nas
ciências “puras” (aquelas que aprendemos na escola) que queira ser professor do
ensino base público no Brasil.
Isso nada mais é do que um simples
reflexo do sucateamento do ensino em todos os níveis no Brasil. O ensino
superior cada vez capta mais professores, pois se paga relativamente melhor do
que no ensino base, por conta da expansão sem necessariamente melhoria de seus
números no Brasil. E o ensino base, como fica? Em último plano, infelizmente.
Causa espanto entre meus pares, e entre conhecidos e familiares, o meu desejo
cada vez mais cristalino de me dedicar exclusivamente ao ensino base público
brasileiro, de preferência fora de algum grande centro urbano.
Tenho como motivação a crença, que
é quase uma fé, de que os serviços públicos precisam ser preenchidos por
aqueles que têm formação pública, e que os serviços públicos precisam ser
estendidos para todo o território nacional. Por isso meu desejo de ser
professor em escola pública.
Urge uma valorização do professor
na Terra Brasilis. Valorização ampla
e irrestrita, e não apenas melhorias trabalhistas e salariais. É preciso
valorizar a profissão, para que haja cada vez mais professores que mostrem para
as crianças e jovens que ser professor é bom e viável, mas em nos tornar santos
ou mártires. Somos homens e mulheres como quaisquer outros; apenas optamos por
uma profissão que melhor nos encontramos.
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