quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jihadistas na Vila Carrão

Mulheres utilizam o hijab tradicional
Os últimos episódios de terrorismo ao redor do mundo tem mostrado, mais uma vez, o lado mais feio, sim, estou sendo pueril, da humanidade. Seja por conta dos ataques em si, para mim que não professo fé alguma, não faz sentido você tentar dominar alguém por conta de uma crença, de meia dúzia de conceitos metafísicos, apesar de respeitar e entender quem tenha fé, seja por conta das consequências sociais sejam elas políticas/militares.
É urgente notar que, não importa as ações militares ou políticas, o terror ganhou a guerra. As cicatrizes geradas por uma série de ações e reações, todas truculentas e atabalhoadas, gerou o novo arranjo geopolítico do século 21.
Não há mais como fechar a caixa de Pandora: para o Ocidente, em termos gerais, todo muçulmano é um terrorista-jihadista-fundamentalista em potencial, e para o Islã todo ocidental é um sionista-imperialista-inimigo-da-fé em potencial.

É nesse contexto que mais me assusta, que mais mostra as estranhas mais feias e ignorantes do ser humano.
Como vocês sabem, moro em São Paulo, uma cidade que caminha à passos largos para se tornar uma cidade multicultural, por conta das fortes ondas migratórias para a capital bandeirante. Nós, paulistanos, somos o fruto de uma das mas profundas misturas, deliciosas por sinal, de etnias, povos e culturas.
Pelos caminhos paulistanos podemos ouvir diversos sotaques e línguas, sentir cheiros e paladares do mundo todo, então, de certa forma, estamos aprendendo a conviver, pelo menos alguns de nós estamos tentando aprender, com pessoas das mais diversas origens.
Por conta de possuir essa consciência, de que estamos em uma cidade com os pés no Brasil e a cabeça no mundo e além, me assusta, pra caramba por sinal, sinais de xenofobia por essa cidade.
Hoje, no famigerado transporte casa-trabalho-casa, eu observei um episódio nesses: estava me dirigindo para a Zona Leste, pelo metrô, quando, na estação da Sé, entraram no trem duas mulheres trajando o hijab e conversando entre si em árabe.
Notei que, automaticamente, diversos olhos se viraram para a dupla, que pareciam não se abalarem com isso. Antes, é preciso ressaltar que a imigração árabe em São Paulo, no começo do século 20, foi massiva. A nossa classe política, por exemplo, tem diversos exemplo de pessoas que são de origem árabe, para citar alguns exemplos, basta nos lembrarmos dos prefeitos Maluf, Kassab e Haddad. Em termos de logradouros, temos a Av. República do Líbano, Viaduto República Árabe Síria, Rua Bagdá, etc. Isso sem contar os centros comerciais do Centro e do Brás.
A única diferença é que grande parte desses imigrantes eram cristãos maronitas, a presença islâmica em São Paulo é recente, e seu crescimento vertiginoso - segundo o Censo 2010, de pouco mais de 30 mil praticantes, hoje os praticantes estão entre 800 mil e 1,2 milhão em 2015 no Brasil - se deu principalmente pele imigração africana para a cidade.
Passando uma ou duas estações, eu comecei a prestar atenção numa conversa que estava ocorrendo ao meu lado, infelizmente eu tenho esse péssimo hábito: duas senhoras comentavam que os atentados de Paris (na “Europa”, no original) eram tudo culpa “deles”, e que, veja só, abrindo as nossas fronteiras para “eles” logo o Brasil seria um alvo, e que “eles” obrigariam todo mundo a se vestir como “elas”.
Minha primeira reação foi estranhar essa separação entre “nós” e “eles”. Existem muito mais coisas que nos unem do que nos separam.
Outra coisa é o nível de ignorância sobre fé, crença e religião. Todo jihadista é muçulmano, mas nem todo muçulmano é jihadista. A porção dos maometanos que apoia e pratica atos terroristas é mínima, menos de 1% da sua população em geral. Ou seja, voltamos ao começo do texto. Infelizmente, o terror venceu a guerra. O mundo não é e nem voltará a ser o mesmo de antes do 11/09. Vivemos no medo, na paranoia e no puro preconceito.

Tudo isso por meia dúzia de conceitos metafísicos mal explicados.

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