quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sexismo no Boteco

Ontem escrevi sobre a minha viagem a Porto Alegre, você poder ler o post aqui, e uma das coisas mais legais foi ter ido num boteco. Dez anos de amizade à distância pedem um reencontro em um local aonde haveria boas conversas, risadas, bebidas e comidas.
As conversas iam indo, todo mundo rindo, quando de repente, não mais que de repente, um amigo meu chama a atenção para si e exclama:
Depois as mulheres reclamam de machismo” e aponta para duas comandas, uma sua e outra de sua namorada. Na parte de baixo de ambas dois valores diferentes de consumação mínima. No caso, homens pagavam R$ 20,00 e mulheres R$ 10,00. E depois continuava:
Se o feminismo fosse para valer, lutaria por essa igualdade.”

Um dos temas que me são mais caros é o feminismo e a luta das mulheres por uma sociedade mais justa e igualitária, aonde a opressão de gênero não exista; entretanto, na hora que a declaração foi feita, achei melhor não colocar a minha argumentação para funcionar, por diversos motivos, como estar ligeiramente alterado por conta de ter tomado uma ou duas cervejas a mais, por achar que ali não era o momento, o que agora percebo que foi um erro, é urgente que o machismo seja combatido na sua acepção, e, talvez o mais importante, por uma ignorância temporária.
Depois de fazer uma reflexão sobre o tema, que muitas e muitos feministas já devem ter se debruçado sobre, cheguei que é sim uma questão feminista a luta pela igualdade no preço da comanda.
Explico: a lógica de mulher pagar menos, ou não pagar, está enraizado na crença de que se mulher não paga, ou paga menos, vai haver mais mulher no estabelecimento, e assim vai ter mais homem, pois afinal homens apenas querem correr atrás de sua luxuria, sendo assim fatura mais o estabelecimento.
Percebe-se que a comanda com diferença de valores é o epicentro do machismo sim, pois transforma a mulher em um objeto, meramente uma boneca que anda e tem com único devir a satisfação sexual masculina, e há opressão de gênero e sexualidade também, pois se baseia exclusivamente na heteronormatividade.
Uma simples comanda acaba sendo um grande exemplo de como um sistema político e sócio-economico acaba sendo opressor na questão de gênero não importa o gênero, pois se de um lado há objetivização, do outro há a imposição de um modelo masculino arcaico e irreal. No caso boteco acima, acredito que meu amigo não está inteiramente consciente da luta feminista, há diversos textos e posts sobre como o capitalismo acaba sendo opressor à mulher através de símbolos e significados. É uma opressão semântica, e ela é a mais poderosa, pois é através dela que surgem as ideias e o pensamento opressor, o que por sua vez acaba chancelando comportamentos e ideologia.

No fim, vale aquela velha máxima: “o capital sempre encontra o seu jeito.”

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