quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Porque Continuo Lendo Quadrinhos


Se há uns 18 anos atrás o Bruno de hoje se encontrasse com o Bruno de ontem e os dois conversassem sobre a marcha inexorável do tempo, e suas marcas na vida cotidiana, o Bruno de ontem ficaria muito espantada com a afirmação do Bruno de hoje que ele ainda lê histórias em quadrinhos, principalmente histórias em quadrinhos de super-heróis. Acho que o Bruno de ontem esperava que o Bruno de hoje, ainda mais esse hoje sendo hoje, esperaria que ele apenas lesse alta literatura e filosofia contemporânea... Ah, como somos ingênuos na mocidade.
Muita gente, em especial aqueles que me conhecem mais superficialmente, acham estranho pra caramba eu gostar de coisas, aparentemente, tão difusas como Wolverine e Bertrand Russell. Mas aconteceu, o que eu posso fazer?
Antes de tudo, é preciso explicar que há muito tempo os quadrinhos não são um amontado de asneira nacionalista ou ideológica. Cada vez mais, as histórias dos heróis vêm se aproximando de um tom mais realista, tocando assuntos do cotidiano e com uma profundidade dramática e narrativa cada vez maior. Para os mais jovens, adolescentes e jovens adultos principalmente, contemporâneos, é na mitologia dos heróis e nos games é que estão o grande depósito e espelho narrativo de sua geração. E não é à toa: a televisão e o cinema cada vez mais retratam o jovem como um modelo pronto e acabado, o que está longe da realidade dos mesmos.

Eu continuo a lendo quadrinhos, primeiro, porque gosto, tanto quanto eu gosto de mitologias, por exemplo, e pela mesma razão: acredito que é nos mitos que sobrevivem onde encontrarmos o que há de mais intrínseco à psiquê humana. É através das narrativas ficcionais com um modelo alegórico e moralizante que nos inserimos no mundo. Não é de graça que diversos estudos já foram feitos sobre a aproximação dessas duas realidades. Um outro motivo para continuar gostando de super-heróis é toda a áurea de mistério e encantamento que há nas histórias em quadrinhos, um super-herói como o Batman, ou o Demolidor, por exemplo, pode ser visto sob os mais diversos prismas e analisados de tantas maneiras quanto um bom filme ou livro popular.
Outro motivo pelo qual defendo a leitura dos quadrinhos é que eles são uma verdadeira porta para a leitura. Quantos de nós, leitores, não começamos a ler através da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Chico Bento? Quantos de nós brincamos, e deixamos nossa imaginação voar, de Batman, Homem-Aranha ou Superman (na minha época, Super-Homem)? Quantos de nós não vimos um paralelo entre aquele nosso chefe chato e arrogante com o Doutor Destino (tá, acho que fui deveras nerd agora)?

Se o Bruno de ontem tivesse um pouco mais de saber, que só vem com o tempo, infelizmente, perceberia que é apenas natural continuar a lendo quadrinhos, desde que não seja apenas quadrinhos.

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