quarta-feira, 27 de maio de 2015

Diário de Bordo, Data Estelar 92944.25 (Eu, um narcisista?)

Sou um homem de poucas, pouquíssimas, vaidades. Não me importo muito com meu visual, tanto no que se refere a forma física ou a indumentária. Sempre cortei o cabelo em casa e usei a barba de pelo menos uma semana. Minhas poucas vaidades são todas relacionadas ao meu lado mais intelectual, sempre me pavoneio em relação à aquisição e manipulação dos meus saberes, hábito que considero um dos maiores defeitos possuídos por mim. Mas de todas as minhas vaidades, essa aqui, de escrever, é com certeza a minha maior. Tenho muito orgulho, além de prazer, de ser escritor, mesmo sendo extremamente realista sobre minhas capacidades e habilidades, um dos dias mais felizes da minha vida foi quando peguei em mãos pela primeira vez o meu primeiro livro.
Por conscientemente ser tão pouco vaidoso, ou seja, eu me enxergo e me entendo como tal. Tal foi, então, o meu espanto ao descobrir em terapia que muitas das causas dos meus sofrimentos emocionais vêm justamente do outro lado do espectro: durante as minhas sessões no divã descobri que sou muito carente e altamente autocentrado. Preciso de atenção e que a atenção seja direcionada para mim.
Semanas depois dessa descoberta, tal entendimento ainda me causa estranheza. Como posso ser ao mesmo tempo uma pessoa sem vaidade, sem orgulho e ser carente, necessitado? Para mim essa é mais uma das minhas muitas contradições e conflitos que acabam por me definir.

Algum pensador, mais sábio e mais bem resolvido do que eu, já terá formulado que a nossa definição é a soma do que somos e do que não-somos, aliás, todas as coisas do mundo são definidas pelo que são e pelo que não-são – o ser é o não-ser não-é – o grande problema, pelo menos no meu entendimento, está justamente em saber dar valor a ambas as partes. Eu, até agora, não soube equacionar as afirmações e suas negações.

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