Sou um homem de poucas, pouquíssimas, vaidades. Não me
importo muito com meu visual, tanto no que se refere a forma física ou a
indumentária. Sempre cortei o cabelo em casa e usei a barba de pelo menos uma
semana. Minhas poucas vaidades são todas relacionadas ao meu lado mais
intelectual, sempre me pavoneio em relação à aquisição e manipulação dos meus
saberes, hábito que considero um dos maiores defeitos possuídos por mim. Mas de
todas as minhas vaidades, essa aqui, de escrever, é com certeza a minha maior.
Tenho muito orgulho, além de prazer, de ser escritor, mesmo sendo extremamente
realista sobre minhas capacidades e habilidades, um dos dias mais felizes da
minha vida foi quando peguei em mãos pela primeira vez o meu primeiro livro.
Por conscientemente ser tão pouco vaidoso, ou seja, eu me
enxergo e me entendo como tal. Tal foi, então, o meu espanto ao descobrir em
terapia que muitas das causas dos meus sofrimentos emocionais vêm justamente do
outro lado do espectro: durante as minhas sessões no divã descobri que sou
muito carente e altamente autocentrado. Preciso de atenção e que a atenção seja
direcionada para mim.
Semanas depois dessa descoberta, tal entendimento ainda me
causa estranheza. Como posso ser ao mesmo tempo uma pessoa sem vaidade, sem
orgulho e ser carente, necessitado? Para mim essa é mais uma das minhas muitas
contradições e conflitos que acabam por me definir.
Algum pensador, mais sábio e mais bem resolvido do que eu,
já terá formulado que a nossa definição é a soma do que somos e do que
não-somos, aliás, todas as coisas do mundo são definidas pelo que são e pelo
que não-são – o ser é o não-ser não-é – o grande problema, pelo menos no meu
entendimento, está justamente em saber dar valor a ambas as partes. Eu, até
agora, não soube equacionar as afirmações e suas negações.
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