terça-feira, 26 de maio de 2015

Diário de um Professor: A Pedagogia da Violência

Nas últimas semanas, em todas as esferas de comunicação, uma discussão tem sobressaído: a votação da PEC 171/93, que reduz a maioridade penal no Brasil de 16 para 18 anos. Não pretendo, agora, discutir com você, leitor, sobre o mérito dessa proposta de emenda constitucional, pois ainda não consegui formular uma posição definitiva sobre o tema. Acredito que há justificativas racionais em ambos os lados do debate, que em sua maioria tem sido elaborado pelo fígado e não pelo cérebro. A discussão deve ganhar ainda mais visibilidade com a morte, por um menor de idade, do cardiologista Jamie Gold no Rio de Janeiro no último dia 20.
Um dos fatos que mais me saltou aos olhos desse caso foi que o menor já havia indo e voltado diversas vezes tanto de ações sócio-educativas como de ações punitivas. Salta-me aos olhos pois o sistema de correção juvenil apresenta no Brasil um baixo índice de reincidentes.

O que me assombra em casos em que envolvam crimes contra a vida e menores é o pouco valor que os menores, crianças, dão para vida. Como já martelei aqui diversas vezes, aliás em quase todo texto que escrevo sobre o tema, uma das funções basais da educação e da pedagogia é a socialização das crianças durante o, longo, ciclo da educação base. Nessa socialização é muito importante que a escola passe para os alunos valores como empatia, humanitarismo, civilidade e, por que não?, senso de ética e moral.
Assim como a educação formal, a educação familiar também precisa passar, ou até reforçar esses valores. Seria muito estranho, por exemplo, um casal humanista e progressista colocar seus filhos em uma escola cujas bases sejam de fervor religioso. A criança não saberia, ou não teria como saber qual é o modelo mais “justo” a ser utilizado.
Na educação atual, tanto a formal quanto a familiar, observamos de forma cristalina uma total desvalorização desse quesito social. A educação está cada vez mais alinhada unicamente com o caráter intelectual, que é deveras importante também, do que nos quesitos sociais. E é na ausência da educação onde aflora a ética da violência.
Não sei se já foi feita essa pesquisa, se foi, leitor, peço humildemente que me envie tal pesquisa, em que se cruzam os dados da violência com a de lares desfeitos, ou de bases familiares precárias. E não, meu leitor mais conservador, não acredito que uma família possa ser considerada precária por ser formado por outros modelos que não os da família tradicional.
A maioria dos menores infratores apresenta fortes conexões com o crime organizado, e não é a toa que haja essa prática. O crime organizado apresenta uma perspectiva de ascensão social, seus chefes estão sempre bem vestidos, portando carros do ano, e outras coisas, e dessa forma surgem como um modelo a ser igualado.
Para o crime organizado, empregar menores também é um grande negócio, pois quanto mais nova for a criança mais simples vai ser inserir seu código ético e moral, além de sua pedagogia. Criada na violência, a criança apenas vai entender a violência, que dessa forma se naturaliza. É notório perceber no vocabulário desses pequenos, e tristes, soldados um certo niilismo, um pessimismo exacerbado, reparem como eles utilizam muito o tempo verbal no passado, como se não fosse possível haver um presente.
Tirar essas crianças das garras da violência é uma tarefa árdua, trabalhosa, que envolve múltiplos agentes. Porém urge essa necessidade. Afinal há um desequilíbrio moral enorme pairando no futuro de uma parcela significativa – cada criança que comete um crime, cada criança que morre por conta do crime, cada criança que escapa da boa educação é uma tragédia – das nossas crianças. 

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