Andando pelas ruas do meu bairro,
em um cenário muito prosaico e bucólico, me peguei em dúvida: será que estou
acordado ou dormindo? Pode parecer meio ridículo, ou fugaz, mas e quantas às
vezes você, e eu, não teve um sonho e se pergunto, durante o sono, se estava
acordado ou dormindo? Por que uma situação se qualifica mais “verdadeira” do
que outra? Isso é discussão para uma outra hora.
Pensando através de uma forma mais
filosoficamente, como podemos confiar tanto na razão quanto nos sentidos na
construção e entendimento do conhecimento, tanto no âmbito material quanto
metafísico, pois ambos já se provaram falhos e imprecisos. Dessa forma me
pergunto como podemos caracterizar o que é a realidade e o que de
fato acorre em nosso entorno.
Acredito que há duas soluções para
esse pequeno problema, o primeiro e talvez o mais fácil de se concluir, não que
traga alguma forma de desolação intelectual e emocional, é que essa realidade
não existe. Essa lição, a negação de tudo, é ensinada muito pelos filósofos
alemães pós-Schopenhauer e seu pessimismo.
Porém, na minha mera opinião, é
deveras dolorido e traumático viver uma vida em negação de absolutamente tudo.
Como estar vivo e negar a beleza frugal de uma tarde chuvosa em uma pequena
cabana no interior? A beleza gloriosa de uma ópera wagneriana? A beleza sútil
de uma margarida selvagem? Me recuso a crer que, pelo fato dos nossos
instrumentos de apreensão e entendimento da realidade serem falhos e
incompletos, a realidade que nos circunda é falsa e a única resposta para isso
é simples negação. Isso nos esvaziaria de sentido e propósito, seriamos apenas um
amontoado de carnes e fluídos que esperam a desintegração chegar em determinado
ponto.
A outra resposta que podemos obter
é aquela que os céticos clássicos nos deram: duvidar. Ou seja, colocar tudo em perspectiva
e questionamento, dessa forma ao olharmos o mar perguntamos: será que isso que
estou vendo é realmente o mar? Será que estou realmente vendo? E seguindo esse
caminho até chegarmos em lugar nenhum.
A melhor atitude que podemos ter
ao nos depararmos com algo incerto é abraçar essa incerteza. Não gostaria de
viver uma vida onde absolutamente tudo já seria determinado e certo, onde as
minhas decisões, minhas interações tivessem impacto, seja ele negativo ou
positivo, na minha vida, esse é um dos principais motivos que me afastei de
qualquer pensamento que aceite o destino em seu cerne, e ainda me faz ter total
descrença em cartomantes, astrólogos e videntes em geral.
Ao não sabermos se estamos de fato
vivos, ou que somos uma mera simulação eletrônica de vida, ou qualquer outra
coisa, nos dá a liberdade de sermos apenas nós mesmos. É claro que é preciso
ter uma boa dose de ceticismo e niilismo em nossas vidas, duvidar e negar são
atitudes recorrentes e importantes na nossa existência, mas eles não devem
nunca suplantar o que é de mais belo no viver, ou no suposto viver, que é a
eterna busca pela felicidade, e essa busca é incerta, afinal nada garante que
já estamos felizes ou que se um dia vamos alcançar a dita felicidade. Ter
incerteza, e abraça-la, nada mais é do que ter consciência da nossa própria
humanidade, e qualquer forma de afastar tal incerteza ao negá-la ou duvidar
dela é apenas uma forma de encurtarmos o que é da mais preciosa desse (suposta)
vida: a felicidade como meta de vida.
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