quinta-feira, 28 de maio de 2015

O SUS, os Huck e a Mídia

Acho a internet uma das grandes invenções do homem, nos mesmo patamar como a roda, a agricultura, a engenharia, a locomotiva, o telefone, o cinema, entre tantas outras. A internet nos possibilitou uma nova forma de vida social, produção econômica e até novas fronteiras na epistemologia e em outros campos filosóficos.
Só que ela, a internet, tem o mesmo potencial para gerar coisas negativas e inúteis. Basta lembrarmos das “polêmicas” que coalham a rede. Na verdade, verdade mesmo, estou meio cansado de escrever sobre essa característica da internet. Acho que é algo meio intrínseco à capacidade humana de criar coisas bacanas e ao mesmo mal utilizá-las. A ciência talvez seja outro grande exemplo dessa capacidade perversa.
A polêmica da vez tem a ver com o acidente aero sofrido pela família dos Huck e seu staff. Como já se sabe, o piloto fez um pouso forçado para evitar que algo de mais danoso acontecesse com os tripulantes e passageiros do avião.

A grande bomba é que todos os ocupantes foram socorridos e tiverem seus primeiros atendimentos efetuados pelo SUS. Aí começou aquele Fla-Flu ideológico que inunda a internet e as redes sociais. Aqueles que se perfilaram de um lado massacrando os dois por terem sido assistidos pelo SUS e aqueles que vangloriaram o atendimento do mesmo sistema.
Não tenho nenhuma simpatia pelos Huck, mas não desejo a eles, nem para qualquer pessoa no planeta, que eles sofram qualquer mal, aliás não desejo nem que eles sofram de forma alguma. Uma das minhas poucas qualidades é a minha empatia com terceiros.
No outro lado do embate, ou combate?, não por que vangloriar um serviço que se prestou apenas a fazer aquilo que é designado a fazer. É prerrogativa do Estado fornecer pronto-atendimento em casos de acidentes em via públicas, e como o ar ainda é público, o socorro às vítimas desse acidente deveria, e foi, feito pelo SUS através do SAMU.
Pipocaram algumas acusações de que a Santa Casa de Campo Grande teria privilegiado os acidentados para que tivessem o melhor e mais rápido atendimento disponível. Ai é que está o erro, principalmente porque pelo sistema público de saúde não pode, ou deveria, haver nenhuma forma de privilégio para atendimento, ele supostamente deveria se basear pela prioridade de atendimento e pela ordem de chegada. Mas vivemos na nação do QI (quem indica).
O que mais me deixou fulo da vida com o episódio foi a cobertura midiática. Essa questão do SUS, se eles têm ou não direito, não deveria nem aparecer, afinal o SUS é um direito para todo cidadão brasileiro, não importando sexo, idade, cor, condição social e nível de educação. O SUS é para todos os brasileiros, ponto.
A cobertura acabou por se focar muito em Luciano Huck, Angélica e nos filhos do casal. Todos as outras pessoas que estavam no avião, a exceção do piloto elevado aos píncaros celestiais e prontamente rejeitado pelo próprio, fazendo que todos os outros ocupantes não passassem de apenas números e não indivíduos. Realmente estamos vivendo no mundo em que há dois tipos primários de seres humanos: os comuns e as celebridades.

Viver em um mundo de hipervalorização das celebridades, são apenas pessoas, meu jesuscristinho, é uma agonia. Basta lembrar a bomba soltada por um portal de internet: Caetano estaciona um carro no Leblon.

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