Dias atrás, por conta do trabalho,
tive que fazer uma longa, longa viagem de táxi. É bom apontar que adoro
conversar com pessoas, ditas, comuns: atendentes de lojas, taxistas, cobradores
de ônibus, vendedores, porteiros, etc. Acredito profundamente que se você
quiser conhecer o âmago de uma determinada sociedade você precisa conhecer a
visão dessas pessoas que formam as camadas bases dessa sociedade. O taxista,
Edmilson, como o zagueiro pentacampeão, era um desses tipos simpáticos, que
adoram conversar e que não tem medo de se expressar, daí foram duas vontades
que se uniram, a dele de conversar e a minha de ouvir.
O Edmilson, nosso taxista, porém
era do tipo que é totalmente contrário à tudo aquilo que acredito: sonha que os
militares voltem ao poder, quer que menor infrator, não importando o delito,
seja trancafiado, acha que bandido bom é bandido morto, acredita que
professores não tem o direito de fazer greve, etc. Edmilson, enfim, era um
conservador e reacionário, de quatro costados, nada dessa onda neocon de
Facebook. Ele me disse que acreditava que o último bom político foi o Doutor
Paulo e que o governador Alckmin estava trilhando um belo caminho para se
tornar um bom presidente.
No começo da viagem, que durou
intermináveis setenta e cinco minutos, eu cai na bobagem de dizer que votei no
Lula 1 e Lula 2, e que votei em Dilma 1 e Dilma 2 nos segundos turnos. Ele
começou a elucubrar veementemente uma tese que o PCC, as FARC e o PT eram faces
da mesma aresta, que o Brasil estava condenado a acabar em um mar anárquico
onde os poderes seriam todos tomados por bandidos e suas corporações. Nada mais
podia salvar o Brasil.
Nada, nada a não ser que os
paulistas, seres de alta cultura e douto saber, se rebelassem e instaurassem um
governo baseado no mérito, no Estado mínimo e no livre comércio. E, é claro,
nos militares no poder.
Se fosse há alguns meses, talvez
semanas, atrás eu até me disporia a debater o quão falsas e conflitantes são
essas realidades, afinal como ter Estado mínimo, redução de impostos e aumento
dos serviços públicos?, e quão nocivo eram essas visões conservadoras, fiquei
duramente ruborizado com as posições de Edmilson, nosso taxista, sobre gays e
transgêneros, feministas, na verdade mulheres em geral, nordestinos, e outras
minorias, eram para melhorar o debate público em geral.
É, leitor, estou cansado de tantos
Edmilsons, taxistas ou não, e suas opiniões. Que falem, que falem em alto e bom
som, acredito que inevitavelmente essas pessoas atinjam algum tipo de autoconscientização
em relação ao tipo de discurso que eles vivem e encampam. Creio que quanto mais
dura uma opinião seja, mais fácil ela é de ser mudada, basta uma dúvida, uma
pequena dúvida, para que esse discurso mude, e a mudança tem uma força transformadora
incrível e sem limites.
Aos Edmilsons, sejam eles quem
forem, falta apenas acesso a múltiplas opiniões e uma centelha, uma pequena
centelha, para iniciar um verdadeiro incêndio transformador.
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