quarta-feira, 13 de maio de 2015

Edmilson, o Taxista

Dias atrás, por conta do trabalho, tive que fazer uma longa, longa viagem de táxi. É bom apontar que adoro conversar com pessoas, ditas, comuns: atendentes de lojas, taxistas, cobradores de ônibus, vendedores, porteiros, etc. Acredito profundamente que se você quiser conhecer o âmago de uma determinada sociedade você precisa conhecer a visão dessas pessoas que formam as camadas bases dessa sociedade. O taxista, Edmilson, como o zagueiro pentacampeão, era um desses tipos simpáticos, que adoram conversar e que não tem medo de se expressar, daí foram duas vontades que se uniram, a dele de conversar e a minha de ouvir.
O Edmilson, nosso taxista, porém era do tipo que é totalmente contrário à tudo aquilo que acredito: sonha que os militares voltem ao poder, quer que menor infrator, não importando o delito, seja trancafiado, acha que bandido bom é bandido morto, acredita que professores não tem o direito de fazer greve, etc. Edmilson, enfim, era um conservador e reacionário, de quatro costados, nada dessa onda neocon de Facebook. Ele me disse que acreditava que o último bom político foi o Doutor Paulo e que o governador Alckmin estava trilhando um belo caminho para se tornar um bom presidente.

No começo da viagem, que durou intermináveis setenta e cinco minutos, eu cai na bobagem de dizer que votei no Lula 1 e Lula 2, e que votei em Dilma 1 e Dilma 2 nos segundos turnos. Ele começou a elucubrar veementemente uma tese que o PCC, as FARC e o PT eram faces da mesma aresta, que o Brasil estava condenado a acabar em um mar anárquico onde os poderes seriam todos tomados por bandidos e suas corporações. Nada mais podia salvar o Brasil.
Nada, nada a não ser que os paulistas, seres de alta cultura e douto saber, se rebelassem e instaurassem um governo baseado no mérito, no Estado mínimo e no livre comércio. E, é claro, nos militares no poder.
Se fosse há alguns meses, talvez semanas, atrás eu até me disporia a debater o quão falsas e conflitantes são essas realidades, afinal como ter Estado mínimo, redução de impostos e aumento dos serviços públicos?, e quão nocivo eram essas visões conservadoras, fiquei duramente ruborizado com as posições de Edmilson, nosso taxista, sobre gays e transgêneros, feministas, na verdade mulheres em geral, nordestinos, e outras minorias, eram para melhorar o debate público em geral.
É, leitor, estou cansado de tantos Edmilsons, taxistas ou não, e suas opiniões. Que falem, que falem em alto e bom som, acredito que inevitavelmente essas pessoas atinjam algum tipo de autoconscientização em relação ao tipo de discurso que eles vivem e encampam. Creio que quanto mais dura uma opinião seja, mais fácil ela é de ser mudada, basta uma dúvida, uma pequena dúvida, para que esse discurso mude, e a mudança tem uma força transformadora incrível e sem limites.

Aos Edmilsons, sejam eles quem forem, falta apenas acesso a múltiplas opiniões e uma centelha, uma pequena centelha, para iniciar um verdadeiro incêndio transformador.

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