sexta-feira, 28 de março de 2014

O Monstro Debaixo da Cama

Às vezes, penso que vivemos tempos esquizofrênicos. É sério. Em pleno século 21, ainda tem gente que tem medinho de 1917. Qual é o trauma? Qual é o grande medo? Que monstro é esse que assola alguns setores da nossa sociedade?
Por conta das proximidades do jubileu de ouro do golpe de 1964 – que diferente do que a palavra pode dizer, não há de glorioso nesse fatídico evento – tenho acompanhado mais de perto essa época de nossa história. E a minha conclusão é que não mudamos muito de 64 até hoje, principalmente nas forças mantenedoras da estrutura de poder.
Tanto o golpe quanto o regime civil-militar se basearam no medo de uma possível transformação do Brasil em uma espécie de Cuba e no restauro da ordem. Comecemos pelo Caribe.

Vejo dois problemas desse medo de cubanização brasileira. Primeiro, Jango e seu PTB estavam bem afastado de qualquer espectro de esquerda socialista e/ou revolucionária. Jango, principalmente, era um político moderado, fazendeiro rico do Rio Grande do Sul, um reformador no máximo, cujo máximo pecado era a busca por o mínimo de justiça social.
Segundo, a capacidade de influência de Cuba sobre o Brasil. Ontem, com o aporte da velha Moscou, Cuba tinha um papel estético para o bloco soviético. Havana tinha como função ser o ápice do sistema socialista, uma confluência de tudo o que havia de bom dentro do radar moscovita. Isso incluía, vai lá, o treinamento de guerrilheiros para o combate do capitalismo nos países terceiro mundanos. Há uma ressalva aqui: geografia. As tática de Castro e Guevara eram muito específicas para as dimensões espaço-temporais da maior ilha caribenha, ou seja, em um contexto continental como as nossas as táticas não tinham aplicação prática. Tanto que os generais tinham muito mais medo era da guerrilha urbana, por ela ser mais eficiente e por cativar as mentes e corações de uma parcela significativa da população.
O outro fator, a ordem, servia como desculpa para toda e irrestrita repressão contra qualquer tipo de oposição. Eu disse qualquer tipo, inclusive a que não era de esquerda. Basta ver o número de militares perseguidos, ou o cerceamento de JK e Carlos Lacerda.
Voltando ao presente, há uma disseminação de um terror comunista cubista-chavista. Só nisso há diversas implicações. Comunismo chavista? Tirando o onirismo, qual a real influência de Cuba para o Brasil? E a Venezuela?, brada alguém. O que tem, respondo-vos.  A influência chavista é no máximo onírica também. Mas e o armamento novo venezuelano? E o brasileiro? Aliás, prometo escrever um textinho bacaninha sobre o imperialismo brasileiro.

O que mais me espanta não é esse medo, mas é o decurso ao longo de 77 anos, desde os tempos do velho Getúlio e o Estado Novo. A “ameaça vermelha” é sempre a desculpa, a válvula de escape para que a estrutura do poder no Brasil se mantenha como está e como sempre foi: na mão de uma pequena parcela da população que detém a grande parcela do poderio econômico. Por isso, amigos, tentem conhecer um pouco mais sobre a história do nosso país, que não é cíclica, porém que se repete, ah se repete.

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