terça-feira, 25 de março de 2014

Prá Frente Brasil?

Nesse último final de semana o Brasil foi tomado pelas tais Marchas da Família com Deus pela Liberdade, reeditando, tentando, um dos eventos mais nefastos de nossa história. Tais eventos forma organizados através das redes sociais e conclamavam pautas das diversas matizes. Desde que à direita, e diametricamente oposta a qualquer coisa popular e social.
O resultado foi, digamos, pífio. A mídia noticiou que houveram cidades em que a tal Marcha não conseguiu reunir nem duas dúzias de pessoas. Em São Paulo, onde moro, o evento, que se reuniu na Praça da República – sou eu, ou a ironia está em todo lugar? – e reuniu cerca de 500 marchadores, mais imprensa e policiamento. Umas mil pessoas, chutando alto. Ao mesmo tempo, houve uma Marcha Antifascista e Antigolpista, que se reuniu na Praça da Sé, um dos símbolos da luta popular na Terra da Garoa. Ela reuniu, com imprensa e polícia, a mesma quantidade de pessoas.

Se fico muito, mas MUITO feliz, com o resultado diminuto da marcha pró-1964, porém não consigo me animar com os números da “contramarcha”. Eles apenas mostram que há, no mínimo, uma polarização igualitária em termos de opinião sobre esses dois setores da sociedade. Isso mostra o quanto desconhecemos a nossa própria história.
Se de um lado temos marchadores fascistas, que sintam saudades do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, e de todos os crimes cometidos pelos militares, do outro tivemos um número de pessoas muito pequeno que se mostravam publicamente contra tal movimentação. Isso deixa claro como a classe política brasileira vive distante da realidade, não apenas em termos sociais, mas em termos representativos.
O Brasil vive uma grande onda conservadora, principalmente desde de julho do ano passado, quando a indignação contra os rumos que o país está tomando deu margem a que velhas ideias fascistas e retrogradas voltassem à vida. Em um país politicamente maduro, é normal o espectro político apresentar as mais diversas cores; se há apenas a tonalidade de uma cor, há algo de errado, podemos pegar tanto os EUA quanto Cuba como exemplo nesse quesito.
Por aqui, pega muito mal alguém defender ideais conservadores, ou de direita, afinal ele é logo associado à defesa de intervencionismo militar e outras ideias escracháveis. Essa marcha apenas corroborou isso. Lembremos que nas últimas eleições a então candidata Dilma recuou na sua opinião sobre o aborto quando foi atacada tanto por José Serra quanto por Marina Silva.
E fora outras retrocessos: a tentativa de mudança da maioridade penal – que aliás é clausula pétrea da constituição, ou seja para muda-la é preciso fazer outra constituição, a defesa cada vez maior do aparato repressor do Estado, o aplauso aos discursos chauvinistas “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos para humanos direitos”, a louvação sempiterna a Joaquim Barbosa (que foi muito correto ao começar o julgamento do mensalão, porém peca ao tentar ser maior do que ele), entre outras pautas esquizofrênicas.
O espectro político brasileiro está a anos-luz de distância de estar maduro; em terras tupiniquins, todo político se declara, no discurso não na prática, de centro-esquerda. Todo. Isso engloba pessoas tão diferentes quanto Jean Willys e Jair Bolsonaro. É preciso haver uma direita, até conservadora, mas responsável e com ideais próprios, democráticos e republicanos.
Isso vale para a esquerda, principalmente para as alas mais progressistas. No Brasil, se declarou de esquerda, virou stalinista na hora. O mundo gira e a Lusitana roda, meu povo. Vamos pensar para frente?

É preciso pensar o país em que vivemos, principalmente por sermos uma democracia ainda em construção. Não, não paranoico, mas estamos longe de sermos uma democracia consolidada. Vamos ser maduros, debater, discutir (no bom sentido), saber ouvir, saber falar. Quem late é cachorro. Maturidade política passa por tudo isso.

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