Nesse último final de semana o
Brasil foi tomado pelas tais Marchas da Família com Deus pela Liberdade,
reeditando, tentando, um dos eventos mais nefastos de nossa história. Tais
eventos forma organizados através das redes sociais e conclamavam pautas das
diversas matizes. Desde que à direita, e diametricamente oposta a qualquer
coisa popular e social.
O resultado foi, digamos, pífio. A
mídia noticiou que houveram cidades em que a tal Marcha não conseguiu reunir
nem duas dúzias de pessoas. Em São Paulo, onde moro, o evento, que se reuniu na
Praça da República – sou eu, ou a ironia está em todo lugar? – e reuniu cerca
de 500 marchadores, mais imprensa e policiamento. Umas mil pessoas, chutando
alto. Ao mesmo tempo, houve uma Marcha Antifascista e Antigolpista, que se
reuniu na Praça da Sé, um dos símbolos da luta popular na Terra da Garoa. Ela
reuniu, com imprensa e polícia, a mesma quantidade de pessoas.
Se fico muito, mas MUITO feliz,
com o resultado diminuto da marcha pró-1964, porém não consigo me animar com os
números da “contramarcha”. Eles apenas mostram que há, no mínimo, uma
polarização igualitária em termos de opinião sobre esses dois setores da
sociedade. Isso mostra o quanto desconhecemos a nossa própria história.
Se de um lado temos marchadores
fascistas, que sintam saudades do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, e de todos os
crimes cometidos pelos militares, do outro tivemos um número de pessoas muito
pequeno que se mostravam publicamente contra tal movimentação. Isso deixa claro
como a classe política brasileira vive distante da realidade, não apenas em
termos sociais, mas em termos representativos.
O Brasil vive uma grande onda
conservadora, principalmente desde de julho do ano passado, quando a indignação
contra os rumos que o país está tomando deu margem a que velhas ideias
fascistas e retrogradas voltassem à vida. Em um país politicamente maduro, é
normal o espectro político apresentar as mais diversas cores; se há apenas a
tonalidade de uma cor, há algo de errado, podemos pegar tanto os EUA quanto
Cuba como exemplo nesse quesito.
Por aqui, pega muito mal alguém
defender ideais conservadores, ou de direita, afinal ele é logo associado à
defesa de intervencionismo militar e outras ideias escracháveis. Essa marcha
apenas corroborou isso. Lembremos que nas últimas eleições a então candidata
Dilma recuou na sua opinião sobre o aborto quando foi atacada tanto por José
Serra quanto por Marina Silva.
E fora outras retrocessos: a
tentativa de mudança da maioridade penal – que aliás é clausula pétrea da
constituição, ou seja para muda-la é preciso fazer outra constituição, a defesa
cada vez maior do aparato repressor do Estado, o aplauso aos discursos
chauvinistas “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos para humanos
direitos”, a louvação sempiterna a Joaquim Barbosa (que foi muito correto ao
começar o julgamento do mensalão, porém peca ao tentar ser maior do que ele),
entre outras pautas esquizofrênicas.
O espectro político brasileiro
está a anos-luz de distância de estar maduro; em terras tupiniquins, todo
político se declara, no discurso não na prática, de centro-esquerda. Todo. Isso
engloba pessoas tão diferentes quanto Jean Willys e Jair Bolsonaro. É preciso
haver uma direita, até conservadora, mas responsável e com ideais próprios,
democráticos e republicanos.
Isso vale para a esquerda,
principalmente para as alas mais progressistas. No Brasil, se declarou de
esquerda, virou stalinista na hora. O mundo gira e a Lusitana roda, meu povo.
Vamos pensar para frente?
É preciso pensar o país em que
vivemos, principalmente por sermos uma democracia ainda em construção. Não, não
paranoico, mas estamos longe de sermos uma democracia consolidada. Vamos ser
maduros, debater, discutir (no bom sentido), saber ouvir, saber falar. Quem
late é cachorro. Maturidade política passa por tudo isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário