É possível ter uma
boa ideia, ganhar dinheiro com ela e ser completamente honesto ao transmitir um
conceito que é correlato a ela? Eu sei que é complicado... Mesmo se for
totalmente honesto, eu, como Diógenes, tenho uma lanterna à mão à procura de
um, ainda assim um leitor mais atento e crítico tende a questionar quais são as
suas intenções ao transmitir, ou propagandear, o seu conceito.
Em Um Mundo, uma Escola: A educação reinventada,
do estadunidense Salman Khan, notamos essa boa intenção que visa fazer
propaganda de si mesmo. Khan esmiúça uma nova metodologia e um novo paradigma
para um modelo escolar; todavia essa lufada na pedagogia está calcada em sua
própria empresa, a Khan Academy.
Vejam, a ideia
exposta no livro é muito boa, e consiste na renovação da educação tendo como
base a informática. Khan propõe uma nova abordagem à pedagogia, onde
eliminaríamos alguns elementos sacros para a educação, como a aula expositiva,
a divisão por turmas, as provas, a lição de casa e até o papel do professor.
O meu grande problema
é a propaganda, nada subliminar, que Khan faz da Khan Academy, essa é a empresa
que fornece os vídeos, que também estão no YouTube, e um software para alunos
fazerem os exercícios de reforço e os professores acompanharem o desempenho dos
alunos.
Uma ou duas
palavrinhas sobre o método apresentado: eu, como professor e aluno, fiquei
suficientemente convencido que esse sistema funciona. Fazer com que os alunos
aprendam no seu ritmo é fascinante, afinal é uma das grandes agonias de ser
professor é não saber ao certo se os conceitos estão sendo assimilados como
deveriam pelos alunos. Porém, ele é muito calçado no ensino de matéria exatas,
como matemática e física, por exemplo, e não há exemplos da aplicação desse
método/software em outras áreas mais subjetivas, como história, literatura e
sociologia, que ainda, bravamente, fazem parte do currículo base da maioria dos
países. Como medir a subjetividade sem a produção de um texto, seja em qualquer
nível de escolaridade? Complicado, não?
Um Mundo, uma Escola: A educação reinventada possui vários méritos – tem linguagem acessível e simples, não apresenta
um debate teorético aprofundado sobre a pedagogia, tem um monte de exemplos –
porém Salman Khan, um sujeito claramente de boa vontade e boa intenção, peca no
sentido de tentar vender algo escamuteado nas franjas da propaganda altruísta.
Seria muito mais justo ele, o livro, ter sido escrito por alguém imparcial,
afinal Khan aponta o dedo para os diversos pontos fracos do sistema pedagógico
vigente, porém não faz nenhuma crítica, no sentido de problematizar, o seu
próprio produto. Mas ainda assim, vale a pena a leitura, ainda mais se você
tiver qualquer ligação com a educação ou pedagogia.
Links:
Khan Academy (em
português) - https://pt.khanacademy.org/
Canal no YouTube - https://www.youtube.com/user/khanacademy (inglês) / https://www.youtube.com/user/KhanAcademyPortugues (português)
Entrevista de Salman
Khan para a jornalista Sabine Righetti, da Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/151625-um-bom-professor-deve-ser-na-verdade-um-otimo-guia.shtml
Salman Khan na
Wikipédia (em inglês) - http://en.wikipedia.org/wiki/Salman_Khan_(educator)
Khan Academy na
Wikipédia (em inglês) - http://en.wikipedia.org/wiki/Khan_Academy
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