A analogia é brega, cafona e
recauchutada, mas precisa: se São Paulo fosse um corpo humano, seu sistema
circulatório, as vias da cidade, está entupido. Em paulistanas terras, depois
de anos de descaso governista, vivemos um verdadeiro caos.
A cidade sofreu uma explosão
demográfica a partir dos anos 1950 com a industrialização brasileira, e desde
então não se parou mais para pensar sobre o planejamento urbano.
O que temos na cidade, hoje, é um
modelo que pode se tornar insustentável em breve. Aliás, vivemos um ponto de
flexão em São Paulo: estamos na verve de aprovar um novo Plano Diretor, que
determinará os rumos que a cidade vai tomar pelos próximos 20 anos.
Os dois maiores problemas que essa
cidade enfrenta, na humilde opinião desse escriba, são: mobilidade urbana e a
especulação imobiliária; eu colocaria ainda a alta concentração de empregos em
zonas determinadas da cidade, mas isso acaba sendo uma consequência da segunda
e causa da primeira.
Sobre a especulação imobiliária, é
notório que vivemos um verdadeiro latifúndio urbano, onde poucas construtoras e
incorporadoras acabam comprando os terrenos e ofertando à sua maneira, e
visando apenas seus bolsos, as unidades habitacionais e comerciais. Ou seja, a
expansão urbana está altamente impregnada pela ética do capital.
A mobilidade urbana é, talvez,
junto com a saúde e a educação o fator que mais atinge a pessoas de baixa
renda. E o que é mobilidade urbana? Essa é uma ótima pergunta; entendo esse
conceito como qualquer forma de locomoção dentro de um perímetro urbano,
passando pelos transportes coletivo e individual.
Em São Paulo, há 17 anos temos o
rodízio de carros. Para quem mora fora de Sampa funciona assim: carros com dois
finais de placa (0 e 1, por exemplo) não podem circular das 07 às 10 horas e
das 17 às 20 horas, e em cada dia da semana um par de finais de placa. Em suma,
é uma tentativa de tirar de circulação, durante os horários de pico, 20% dos
automóveis. No começo, o rodízio funcionou muito bem, o grande problema foi a
melhoria da economia brasileira, a facilidade de crédito e o aumento de oferta
para a compra de automóveis. Quem não tinha carro, conseguiu comprar o seu, e
quem já tinha conseguiu ampliar a sua frota.
Para melhor a circulação dos
carros em Sampa é preciso tira-los da rua. É inadmissível que o trajeto simples
da casa para o trabalho (ou escola) e da volta seja feita unicamente por
carros. É preciso então investir em transporte público, ou em formas alternativas
de locomoção, como caminhadas, bicicletas e um sistema de caronas.
No transporte público urbano são
duas frentes: o transporte rápido (metrô, VLT, BRT e trem) e o vascular
(ônibus, micro-ônibus e lotação). O metrô por aqui é pífio, mínimo, para dizer
algo de bom. Sua velocidade vem caindo dia a dia, muito por causa da
superlotação, que se dá muito pela concentração urbana – sobre esse assunto
parece que sempre falamos o mesmo conceito de novo, e de novo, e de novo.
Uma solução que é fácil de se implementada,
além de bem mais barata, são os ônibus. Para isso é preciso repensar os
trajetos e onde o ônibus anda. Para transportar mais pessoas, ele precisa ser
rápido, para ser rápido ele precisa ter seu espaço e racionalizar o seu
trajeto.
Por isso, não consigo entender
porque alguém que utiliza o sistema pode ser contra as novas faixas exclusivas
de ônibus, adotadas desde o ano passado pela prefeitura. Em alguns bairros,
comerciantes e moradores chegaram a fazer alguns protestos contra a criação
dessas faixas, alegando que isso prejudica o comércio local e aumenta o
barulho. Isso é, no mínimo, pensar que o mundo termina no seu próprio nariz.
Outra crítica que se faz é que as faixas de ônibus não fazem circular mais
ônibus. Essa não é a intenção, e sim aumentar a velocidade dos ônibus, ou seja,
deixar o caminho livre para a circulação dele.
É claro que nem tudo são flores,
há várias linhas de ônibus sendo canceladas, alegando-se que com o aumento da
velocidade e o Bilhete Único os passageiros podem se deslocar com mais
facilidade. O entrave aqui é cultural, ainda não sabemos utilizar o Bilhete
Único, que deveria integrar de graça também o Metrô e a CPTM.
Para você que reclama do trânsito,
pense no seu papel atuante contra ele, afinal se você pega o carro para ir
apenas trabalhar ou estudar, geralmente sozinho nele, você é sim culpado pelo
trânsito. Não confundamos o direito de posse com o direito de uso, não é porque
você tem o carro que você pode usá-lo do jeito que você acha melhor, pois um
direito individual termina onde o direito coletivo começa. Precisamos, todos,
pensar e executar uma cidade melhor para todos, inclusive para nós como
indivíduos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário