No último feriado,
dia 21, Tiradentes e segunda-feira, fomos brindados pela coluna semanal na
Folha de São Paulo do professor de filosofia da PUC-SP Luis Felipe Pondé (o
link para o texto está lá embaixo). O título? Por uma direita festiva. Só pelo título já dava para ter breves
insights sobre o que viria pela frente...
Na coluna, o
professor Pondé argumenta que os jovens de direita, ou liberais, por serem
interessados em temas profundos como economia e política, e por encararem isso
de maneira séria, honesta e profundamente, não conseguiriam “pegar mulher”,
afinal as pessoas de esquerda tem um discurso mais próximo ao coração, que
serve para atrair jovens mulheres da classe alta entediadas.
Não é preciso ser
nenhum gênio metafísico para saber que imediatamente as timelines foram
inundadas por memes reverberando a coluna citada. O escracho, o humor, o riso,
são armas importantes em qualquer tipo de duelo retórico; eles precisam estar
presentes sempre que necessário. Porém, humor de lá, humor de cá, o assunto é
muito sério.
Afinal de ambos os
lados, do tucanato aos petralhas, não foram ao cerne do problema: o termo
“pegar mulher”. Fica claro a coisificação do sexo feminino por parte de ambos
os lados. Até agora, só vi circular uma charge que crítica essa atitude. Mulher
não se pega, se conquista, não no sentido ibero-americano, se encanta. Isso
mostra um machismo incrustado no modus
pensandi dos articulistas e formadores de opinião.
Isso revela uma característica
da crônica política – crônica sim, pois isso não é jornalismo – atual
brasileira: o argumento ad hominem,
aquele argumento que crítica não as ideias em si, mas quem as verbalizam.
Vejam, em nenhum momento do texto do Pondé, nem da defesa perpetuada pelo
Rodrigo Constantino, na Veja (texto
linkado abaixo), fazem uma crítica às ideias, ou ao embate de ideias. É sempre
sobre aquele que as defende.
Por outro lado, os
críticos ao texto do professor da PUC também utilizam o mesmo recurso, baixando
ainda mais o nível do debate. Vejam, eu não sou contra o riso, muito pelo
contrário, porém em um caso como esse acho que as melhores armas são mostrar
para quem as defende as suas próprias fraquezas, os seus deslizes, as suas
rachaduras.
Dizer que a esquerda
é mais festiva que a direita, é simplesmente generalizar ambos os campos de
forma moralista, bem típica de como os conservadores faziam na virada do século
19, apontando as falhas morais de alguém para se enaltecer como paladino de um
bem maior.
As ondulações geradas
foram todas muito mais criticando as pessoas envolvidas do que o próprio texto
em si, o que é muito, muito, grave. Qual era a intenção dos autores a fazer
isso? Chamar a esquerda de irresponsável, utópica, “coisa de estudante uspiano
da FFLCH”? É, meu amigo, a retórica e oratória, campos tão esquecidos em tempos
hyperlinks, mostram-se cada dia mais
presentes e poderosas.
Hay que farrear, mas sien perder la inteligência
jamais!
Links:
Por uma direita festiva, texto de Luis Felipe Pondé, na Folha
de São Paulo de 21 de abril de 2014: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/04/1443306-por-uma-direita-festiva.shtml
Pondé e a defesa de uma direita festiva, texto de Rodrigo Contantino para a Veja
online: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/ponde-e-a-defesa-de-uma-direita-festiva/
Papo Cabaço (página crítica ao
texto do Pondé no Facebook): https://www.facebook.com/papo.cabaco
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