terça-feira, 15 de abril de 2014

Sobre Palavras

Esses dias – ontem, para ser mais específico – fui dar aula, de matemática, pasmem!, para duas meninas do Colégio Santo Ivo, e como de costume eu me apresentei dizendo meu nome, minha idade, que elas poderiam me chamar pelo nome, que eu dava aula particular desde os 17 anos de idade e que era escritor, e que meu primeiro livro será lançado em breve.
Quando mencionei esse último fato para elas, prontamente entraram em choque, era como se tivessem visto um fantasma, um ser encantado. Eu me senti, sentado ali naquela sala de estar, como um unicórnio sendo devassado por exploradores que não deveriam ter tomado a segunda direita.

Acredito que elas acharam super estranho um escritor, eu, estar ali na frente delas. Sou um cara normal, faço piada, sou sério, sei geometria espacial e probabilidade. E ainda era escritor. Muito disso, essa surpresa toda, vem do fato de como tratamos os livros e os autores por essas bandas.
Durante a nossa idade escolar, ou seja dos seis aos dezoito anos, fora os anos na Universidade, os livros e os autores são tratados como totens, como algo sacro, intocável e inviolável. Há alguns dias atrás, li em um jornal de grande circulação um artigo sobre bibliotecas, onde o escritor dizia conhecer pessoas que têm mais apreço por ter uma biblioteca do que por lê-la. Eu também conheço diversas pessoas assim.
Voltando às meninas, fiquei um tanto quanto constrangido, mais para tímido, com o comportamento delas, então fiquei pensando sobre o assunto. O que era, afinal, ser um escritor? Não saberia responder, durante anos eu me reneguei ter tal ofício. De fato, até hoje é um pouco esquisito quando me pergunto a minha profissão e eu respondo: “escritor”.
Quem vive das letras, vive vidas que não são suas; a imaginação requerida para esse ofício é, ao mesmo tempo, uma dádiva e uma maldição. Vivemos em um mundo só nosso, por sinal muito efêmero. Cada personagem que nasce, é como se nós nascêssemos de novo; assim como em cada morte ficcional, ou quando a história termina, também chegamos ao fim. Fernando Pessoa já dissera:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”.
Algumas pessoas me perguntam como que eu consigo conviver com o fato de que eu exponho a minha vida nas palavras. Aqui, descordo totalmente das pessoas que me pergunta tal coisa, afinal a minha vida é muito maior e mais complexa do que qualquer texto que um dia eu venha a escrever. A vida de escritor é recorte, mesmo sendo a minha vida que escreva aqui, é apenas uma pequena parte, editada e escolhida. Um recorte da minha vida.

Mas ainda assim, escrever me encanta. Ainda acho meio mágico poder me comunicar de tantas formas e poder falar sobre vários e múltiplos assuntos. Eu tenho algumas certezas no mundo, e são: o amor vence tudo, nasci para escrever e lecionar e um dia iremos todos para o outro lado da existência. O resto? O resto fica para um próximo capítulo.

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