Esses dias – ontem, para ser mais
específico – fui dar aula, de matemática, pasmem!, para duas meninas do Colégio
Santo Ivo, e como de costume eu me apresentei dizendo meu nome, minha idade,
que elas poderiam me chamar pelo nome, que eu dava aula particular desde os 17
anos de idade e que era escritor, e que meu primeiro livro será lançado em
breve.
Quando mencionei esse último fato
para elas, prontamente entraram em choque, era como se tivessem visto um
fantasma, um ser encantado. Eu me senti, sentado ali naquela sala de estar,
como um unicórnio sendo devassado por exploradores que não deveriam ter tomado
a segunda direita.
Acredito que elas acharam super
estranho um escritor, eu, estar ali na frente delas. Sou um cara normal, faço
piada, sou sério, sei geometria espacial e probabilidade. E ainda era escritor.
Muito disso, essa surpresa toda, vem do fato de como tratamos os livros e os
autores por essas bandas.
Durante a nossa idade escolar, ou
seja dos seis aos dezoito anos, fora os anos na Universidade, os livros e os
autores são tratados como totens, como algo sacro, intocável e inviolável. Há
alguns dias atrás, li em um jornal de grande circulação um artigo sobre
bibliotecas, onde o escritor dizia conhecer pessoas que têm mais apreço por ter
uma biblioteca do que por lê-la. Eu também conheço diversas pessoas assim.
Voltando às meninas, fiquei um
tanto quanto constrangido, mais para tímido, com o comportamento delas, então
fiquei pensando sobre o assunto. O que era, afinal, ser um escritor? Não
saberia responder, durante anos eu me reneguei ter tal ofício. De fato, até
hoje é um pouco esquisito quando me pergunto a minha profissão e eu respondo:
“escritor”.
Quem vive das letras, vive vidas
que não são suas; a imaginação requerida para esse ofício é, ao mesmo tempo,
uma dádiva e uma maldição. Vivemos em um mundo só nosso, por sinal muito
efêmero. Cada personagem que nasce, é como se nós nascêssemos de novo; assim
como em cada morte ficcional, ou quando a história termina, também chegamos ao
fim. Fernando Pessoa já dissera:
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”.
Algumas pessoas me perguntam como
que eu consigo conviver com o fato de que eu exponho a minha vida nas palavras.
Aqui, descordo totalmente das pessoas que me pergunta tal coisa, afinal a minha
vida é muito maior e mais complexa do que qualquer texto que um dia eu venha a
escrever. A vida de escritor é recorte, mesmo sendo a minha vida que escreva
aqui, é apenas uma pequena parte, editada e escolhida. Um recorte da minha
vida.
Mas ainda assim, escrever me
encanta. Ainda acho meio mágico poder me comunicar de tantas formas e poder
falar sobre vários e múltiplos assuntos. Eu tenho algumas certezas no mundo, e
são: o amor vence tudo, nasci para escrever e lecionar e um dia iremos todos
para o outro lado da existência. O resto? O resto fica para um próximo
capítulo.
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