Nos últimos dias, tem sido
veiculado a notícia que Rachel Sheherazade, âncora e comentarista do Jornal do
SBT, após os seus infelizes comentários sobre o jovem criminoso acorrentado por
vigilantes no Rio de Janeiro, foi posta em “férias” e depois foi retirado o
espaço para seus comentários durante o espaço do editais do telejornal.
Eu não compactuo de forma alguma com
as opiniões e pontos de vista de Sheherazade. Não consigo concordar com essa
ideologia de “bandido bom é bandido morto” ou que “prisão tem que ser ruim para
o marginal pagar seus pecados”. Acredito nas causas sociais, ambientais e
psicológicas do crime. Ou se trata-se todos os criminosos dessa forma, isso
inclui você que paga uma cervejinha ou um café para o policial naquela blitz
pós-balada na Vila Olímpia para ele não te enquadrar na Lei Seca, ou você que
tira racha em qualquer avenida, ou seja, para qualquer um age contra a lei de
alguma forma. Não é essa a definição de bandido e marginal?
Porém, mais do que ser contra as
opiniões da Sheherazade, sou contra qualquer tipo de censura, seja ela oficial,
ou seja, calcada nas bases da lei, ou velada, com ameaças e coerções. A censura
é um dos aspectos mais repugnantes que pode existir em estados totalitários,
pois fere dois direitos básicos do cidadão: o de expressão e o de informação.
Uma democracia madura e um estado
realmente de direito pressupõe uma imprensa livre. Isso não significa poder
dizer tudo o que se quer quando se quer, todo direito tem limite. A pressão
popular, essa sim legítima pois representa o povo, essa sim é legítima.
Claro que há limites para a
imprensa. E qual seria esse limite? A lei, se você é racista, misógino ou
sectário, fatores que a lei marginaliza, é óbvio que a tribuna e seu direito de
expressão não são muletas para o seu discurso de ódio. No caso de Sheherazade,
o ministério público está investigando e a processando por apologia à
violência, que de fato ela fez mesmo. No modelo estatal que vivemos, uma das
prerrogativas do estado é o monopólio da violência, ou seja, cabe unicamente ao
estado ter que usar da violência, quando estritamente necessário, para mediar
conflitos, esse é o papel da polícia.
Mas enfim, como disse, sou
completamente contra esse discurso velho, batido e fascista que alguém que
comete um crime merece um tratamento discriminatório. Quem comete um crime não
sabe viver dentro dos limites da lei, a prisão deve, ou deveria, servir como
uma instituição regenerador e de reintrodução desse sujeito à sociedade a qual
ele vive. Porém, não consigo compactuar com parte da esquerda brasileira, que
tem um viés stalinista tão ultrapassado quanto o primeiro, que vê na mordaça a
sua maior força política.
O uma frase atribuída ao
iluminista francês Voltaire resumi bem a situação da Sheherazade: "Posso não concordar com o que você diz, mas
defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Mesmo trezentos anos
depois, a Revolução Francesa parece que nunca esteve tão atual quanto agora.
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