segunda-feira, 7 de abril de 2014

Não É Por 25%

Na última sexta-feira, dia 04 de abril, a mídia vinculou a notícia que o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) se equivocou ao divulgar na semana anterior dados sobre a violência sexual contra as mulheres no Brasil; já tratei desse assunto aqui.
Originalmente, para a resposta a seguinte pergunta: “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas?”, ou seja, é culpa vítima sofrer uma violência ou não?, 65% dos entrevistados disserem que... sim. No dia 04 o Ipea se pronunciou que, por um erro de digitação, o dado real era de aproximadamente 25%. Ou seja, 1 em cada 4 entrevistados concorda bisonhamente com essa ideia. Isso, comparativamente, é quase o dobro do número de brasileiros com diploma universitário, que gira em torno de 10% segundo o IBGE.
A diferença dos números do Ipea não traz nenhuma mudança no resultado, pois ainda é um número muito grande. A conclusão ainda é a mesma: vivemos em um país extremamente machista, onde a mulher precisa ser “domada” e “posta no seu lugar”.
O machismo, assim como o racismo, a corrupção e o golpismo, são características endêmicas à nossa sociedade. É algo que está tão intricada e encalacrada na nossa definição como povo e sociedade que nem notamos mais, ou melhor, fingimos que, quando há um episódio do mais leve ao mais grave, não aconteceu simplesmente.
Há vários fatores que podem comprovar isso, mas gostaria de demonstrar um episódio que aconteceu recentemente com alguém muito próximo a mim, envolvendo o racismo.
Minha enteada, que é afrodescendente, entrou no curso de Engenharia Ambiental, na UFSCar. Ela passou na 3ª lista, mas não entrou pelas cotas, pois a concorrência por essa via era maior que na sem cota. Ela mora em um município muito pequeno no oeste paulista. Na criação da sua república, que foi completamente aleatória à sua vontade, várias meninas, de várias origens diferentes.
Eis que uma das meninas solta a pérola: “esse pessoal que passa por cotas é muito burro! não sabem nada, vocês precisam ver o tipo de perguntas que eles fazem na sala de aula!
Todo aluno, e eu me incluo nesse rol, primeiro-anista na faculdade faz as mais esdrúxulas perguntas. Pergunto-vos: essa reação é por se tratar de um aluno cotista, ou seja, negro, ou ela realmente se indignou pela dúvida do colega? Notem as palavras, e elas têm tanto poder, empregadas: “pessoal”, colocando todos os cotistas no mesmo balaio como se fossem um único corpo.
Acredito que muitos dos leitores têm histórias parecidas com essas envolvendo algum dos fatores que citei acima. O que isso mostra? Para mim, mostra quão incrustradas estão tais características em nossa mentalidade, e elas só acabam sendo replicadas, duplicadas e consolidadas em nossa cultura.

Mudar essas características que corroem seus membros pouco a pouco, gerando assim uma tensão velada, além da pavimentação de um discurso opressivo, demora para se mudar. Mas ela precisa começar a mudar, assim movendo-se a sociedade toda as esferas de poder vão ter que mudar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário