Na
última sexta-feira, dia 04 de abril, a mídia vinculou a notícia que o Ipea
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) se equivocou ao divulgar na
semana anterior dados sobre a violência sexual contra as mulheres no Brasil; já
tratei desse assunto aqui.
Originalmente,
para a resposta a seguinte pergunta: “mulheres
que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas?”, ou seja, é culpa vítima sofrer uma violência ou não?,
65% dos entrevistados disserem que... sim. No dia 04 o Ipea se pronunciou que,
por um erro de digitação, o dado real era de aproximadamente 25%. Ou seja, 1 em
cada 4 entrevistados concorda bisonhamente com essa ideia. Isso,
comparativamente, é quase o dobro do número de brasileiros com diploma
universitário, que gira em torno de 10% segundo o IBGE.
A
diferença dos números do Ipea não traz nenhuma mudança no resultado, pois ainda
é um número muito grande. A conclusão ainda é a mesma: vivemos em um país
extremamente machista, onde a mulher precisa ser “domada” e “posta no seu
lugar”.
O
machismo, assim como o racismo, a corrupção e o golpismo, são características
endêmicas à nossa sociedade. É algo que está tão intricada e encalacrada na
nossa definição como povo e sociedade que nem notamos mais, ou melhor, fingimos
que, quando há um episódio do mais leve ao mais grave, não aconteceu
simplesmente.
Há
vários fatores que podem comprovar isso, mas gostaria de demonstrar um episódio
que aconteceu recentemente com alguém muito próximo a mim, envolvendo o
racismo.
Minha
enteada, que é afrodescendente, entrou no curso de Engenharia Ambiental, na
UFSCar. Ela passou na 3ª lista, mas não entrou pelas cotas, pois a concorrência
por essa via era maior que na sem cota. Ela mora em um município muito pequeno
no oeste paulista. Na criação da sua república, que foi completamente aleatória
à sua vontade, várias meninas, de várias origens diferentes.
Eis que
uma das meninas solta a pérola: “esse
pessoal que passa por cotas é muito burro! não sabem nada, vocês precisam ver o
tipo de perguntas que eles fazem na sala de aula!”
Todo
aluno, e eu me incluo nesse rol, primeiro-anista na faculdade faz as mais
esdrúxulas perguntas. Pergunto-vos: essa reação é por se tratar de um aluno
cotista, ou seja, negro, ou ela realmente se indignou pela dúvida do colega?
Notem as palavras, e elas têm tanto poder, empregadas: “pessoal”, colocando
todos os cotistas no mesmo balaio como se fossem um único corpo.
Acredito
que muitos dos leitores têm histórias parecidas com essas envolvendo algum dos
fatores que citei acima. O que isso mostra? Para mim, mostra quão incrustradas
estão tais características em nossa mentalidade, e elas só acabam sendo
replicadas, duplicadas e consolidadas em nossa cultura.
Mudar
essas características que corroem seus membros pouco a pouco, gerando assim uma
tensão velada, além da pavimentação de um discurso opressivo, demora para se
mudar. Mas ela precisa começar a mudar, assim movendo-se a sociedade toda as
esferas de poder vão ter que mudar.
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