terça-feira, 6 de maio de 2014

Como assim Você É Ateu?

Como falei na minha crônica sobre ter depressão (leia aqui), eu sou ateu. Mas calma, sou uma boa pessoa. A ideia de escrever esse texto, que sempre esteve na minha cabeça, veio depois de algumas conversas com os pais dos meus alunos.
Não sei muito por qual motivo, a maioria dos pais dos meus alunos me questiona qual a minha religião. Acredito que pelo fato da religião fazer um grande papel na educação das pessoas, basta ver quantos colégios, escolas e universidades, têm alguma orientação religiosa.
A reação de quando falo sou ateu é quase sempre a mesma: espanto. Muitos deles confundem o fato de ser ateu, ou seja, negar ou não conceber a existência de um deus pessoal, com não ser católico, muitos me perguntam se eu sou evangélico, não sei o porquê. Alguns já me perguntaram se eu era judeu, mulçumano...
No senso comum, as pessoas tendem a confundir a religião com fé. Apesar de estarem bem próximas uma da outra, elas não são exclusivas uma da outra. Você pode ser cristão (fé) e não ser católico, protestante ou neopentecostal (religião).

Bem, essa crônica não é bem sobre isso. É sobre eu não conceber a existência de um deus pessoal. O primeiro fator a ser levado em consideração é justamente essa palavra: conceber. Para mim, deus é um conceito. E digo mais, um conceito metafísico. Há como provar a materialidade de deus? Apenas se for o caso de você ter ficado preso em algum lugar no século XII...
Sou ateu porque o conceito de deus e os dogmas da religião servem de amarras para o livre pensamento humanista, posto que elas se revelam como âncoras para quem tenta seguir esse tipo de pensamento. O físico Neil deGrasse Tyson, famoso por apresentar o programa Cosmos: A Space Time Odissey – além de ter “rebaixado” Plutão para a categoria de planeta-anão, e depois ter surgido uma nova categoria astronômica, os plutoides, além e ter um meme seu na internet, em sua palestra O Perímetro da Ignorância faz um belo painel sobre como o pensamento religioso acaba por criar barreiras sobre o desconhecido, a matéria prima da ciência, e com isso freando o desenvolvimento do pensamento, do conhecimento e da ciência.
Não possuir nenhum deus ou religião, também, me dá uma sensação de liberdade de associação. Diferentemente da maioria dos religiosos consigo ao mesmo tempo ver a beleza da poesia do Corão, a virtude nos contos morais do Antigo Testamento e apreciar a profundidade filosófica dos Evangelhos e da obra de Paulo de Tarso. E estamos apenas no Ocidente, e mesmo ainda, apenas nas religiões monoteístas e organizadas, a literatura e a filosofia das religiões orientais são de uma profundidade e de uma beleza incríveis. Isso tudo sem ser atrapalhado pelas amarras do dogma, que por sua natureza, não podem ser refutados, duvidados ou questionados. Os dogmas, por mais relevantes que possam ser, acabam por amarrar qualquer outra interpretação possível à religião senão a oficial.
Ser ateu e cético, ou seja, colocar todo conhecimento em questionamento, inclusive, colocando o questionamento em questionamento, são as grandes pilastras do meu sistema como pensador. Não há nada mais lindo do que admitir a própria ignorância, não saber as respostas, afinal, somos todos curiosos, não somos? Respeito e admiro todas as religiões, afinal elas tratam do que há de mais subjetivo no ser humano que é sua capacidade de questionar a si mesmo e o mundo ao redor, apenas não funciona para mim. Sou ateu porque não encontrei outra forma que responda as minhas dúvidas internas de uma forma melhor.

Links:
Palestra O Perímetro da Ignorância, de Neil deGrasse Tyson (legendado em português): https://www.youtube.com/watch?v=fZKgDtw9WkA

Site do livro The Pluto Files: The rise and fall of the America’s favorite planet (Dossiê Plutão: Ascensão e queda do planeta preferido da América, em tradução livre), onde deGrasse Tyson descreve o processo que levou ao “rebaixamento” de Plutão e a reação da opinião pública nos EUA (em inglês): http://www.haydenplanetarium.org/tyson/buy/books/the-pluto-files

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