Como falei na minha
crônica sobre ter depressão (leia aqui),
eu sou ateu. Mas calma, sou uma boa pessoa. A ideia de escrever esse texto, que
sempre esteve na minha cabeça, veio depois de algumas conversas com os pais dos
meus alunos.
Não sei muito por
qual motivo, a maioria dos pais dos meus alunos me questiona qual a minha
religião. Acredito que pelo fato da religião fazer um grande papel na educação
das pessoas, basta ver quantos colégios, escolas e universidades, têm alguma
orientação religiosa.
A reação de quando
falo sou ateu é quase sempre a mesma: espanto. Muitos deles confundem o fato de
ser ateu, ou seja, negar ou não conceber a existência de um deus pessoal, com
não ser católico, muitos me perguntam se eu sou evangélico, não sei o porquê.
Alguns já me perguntaram se eu era judeu, mulçumano...
No senso comum, as
pessoas tendem a confundir a religião com fé. Apesar de estarem bem próximas
uma da outra, elas não são exclusivas uma da outra. Você pode ser cristão (fé)
e não ser católico, protestante ou neopentecostal (religião).
Bem, essa crônica não
é bem sobre isso. É sobre eu não conceber a existência de um deus pessoal. O
primeiro fator a ser levado em consideração é justamente essa palavra:
conceber. Para mim, deus é um conceito. E digo mais, um conceito metafísico. Há
como provar a materialidade de deus? Apenas se for o caso de você ter ficado
preso em algum lugar no século XII...
Sou ateu porque o
conceito de deus e os dogmas da religião servem de amarras para o livre
pensamento humanista, posto que elas se revelam como âncoras para quem tenta
seguir esse tipo de pensamento. O físico Neil deGrasse Tyson, famoso por
apresentar o programa Cosmos: A Space
Time Odissey – além de ter “rebaixado” Plutão para a categoria de
planeta-anão, e depois ter surgido uma nova categoria astronômica, os
plutoides, além e ter um meme seu na
internet, em sua palestra O Perímetro da
Ignorância faz um belo painel sobre como o pensamento religioso acaba por
criar barreiras sobre o desconhecido, a matéria prima da ciência, e com isso
freando o desenvolvimento do pensamento, do conhecimento e da ciência.
Não possuir nenhum
deus ou religião, também, me dá uma sensação de liberdade de associação.
Diferentemente da maioria dos religiosos consigo ao mesmo tempo ver a beleza da
poesia do Corão, a virtude nos contos morais do Antigo Testamento e apreciar a
profundidade filosófica dos Evangelhos e da obra de Paulo de Tarso. E estamos
apenas no Ocidente, e mesmo ainda, apenas nas religiões monoteístas e
organizadas, a literatura e a filosofia das religiões orientais são de uma
profundidade e de uma beleza incríveis. Isso tudo sem ser atrapalhado pelas
amarras do dogma, que por sua natureza, não podem ser refutados, duvidados ou
questionados. Os dogmas, por mais relevantes que possam ser, acabam por amarrar
qualquer outra interpretação possível à religião senão a oficial.
Ser ateu e cético, ou
seja, colocar todo conhecimento em questionamento, inclusive, colocando o
questionamento em questionamento, são as grandes pilastras do meu sistema como
pensador. Não há nada mais lindo do que admitir a própria ignorância, não saber
as respostas, afinal, somos todos curiosos, não somos? Respeito e admiro todas
as religiões, afinal elas tratam do que há de mais subjetivo no ser humano que
é sua capacidade de questionar a si mesmo e o mundo ao redor, apenas não
funciona para mim. Sou ateu porque não encontrei outra forma que responda as
minhas dúvidas internas de uma forma melhor.
Links:
Palestra O Perímetro da Ignorância, de Neil
deGrasse Tyson (legendado em português): https://www.youtube.com/watch?v=fZKgDtw9WkA
Site do livro The Pluto Files: The rise and fall of the
America’s favorite planet (Dossiê
Plutão: Ascensão e queda do planeta preferido da América, em tradução
livre), onde deGrasse Tyson descreve o processo que levou ao “rebaixamento” de
Plutão e a reação da opinião pública nos EUA (em inglês): http://www.haydenplanetarium.org/tyson/buy/books/the-pluto-files
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