O historiador
francês, infelizmente recentemente morto, Jacques Le Goff ficou famoso por
vários motivos, dois deles em termos metodológicos foram a promoção da história
das mentalidades, e sua aproximação com a antropologia, e o conceito de duração
histórica, principalmente os fatores de longa de duração. É dele, por exemplo, a
análise que a Idade Média teria, de fato, terminado apenas depois da Revolução
Francesa, porém ainda com resquícios em pleno século 20.
Em Heróis e maravilhas da Idade Média estão
presentes todos esses conceitos, porém de forma reduzida, principalmente por
conta que a maioria desses conceitos são explorados em outros livros de Le
Goff, principalmente em O imaginário
medieval. Então temos em mãos um livro que beira à divulgação científica.
Digo que beira,
afinal a linguagem empregada é de rigor acadêmico, e os estudos apresentados,
em quase todos os casos, são apresentados de forma minuciosa. É preciso lembrar
que em nenhum momento Le Goff expõe seu arcabouço teórico, pelo menos não de
forma clara e textual, assim sendo o livro passa a ser um meio termo entre um
livro teórico e um livro de divulgação. É um bom texto para os bancos
estudantis universitários e para professores se reciclarem.
Mas do que trata o
texto? Le Goff faz uma análise de personagens e espaços que marcaram o
imaginário medieval e que tiveram uma persistência em longa duração, alguns
chegando até os nossos tempos. É preciso ressaltar que mesmo os personagens
históricos – Carlos Magno, Rolando e “El Cid” Rodrigo Diaz de Vivar – são
retratados a partir de sua perspectiva literária e imagética, e nunca como
figura histórica, a exceção talvez de Carlos Magno.
Outra crítica
pertinente ao texto é que ele é extremamente centrado na Europa Central, ou
seja, o que hoje é a Alemanha, França, os Países Baixos e o norte da Itália.
Quando trata de outras regiões, como a Ibéria e a Bretanha, Le Goff faz apenas
pequenas análises – o capítulo dedicado a Robin Hood chega a ser desapontador –
e sempre a partir do ponto de vista francês. Seria aqui uma veia nacionalista
de Le Goff? Sobre Portugal, o Império Bizantino e os povos eslavos não há
nenhuma história, nenhum personagem.
Para o público fora
dos muros da Academia, Heróis e
maravilhas da Idade Média é um livro encantador, pois apresenta um conceito
muito difícil de aceitação, como a longa duração histórica e a aproximação da
história com a antropologia, além de expor uma série de personagens
fascinantes. Porém para algum estudioso já iniciado na historiografia do tema
ele é limitado, mas não chega a ser desapontador. Uma boa leitura, um bom
divertimento.
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