terça-feira, 20 de maio de 2014

Mentalidade, Imaginário e a Longa História

O historiador francês, infelizmente recentemente morto, Jacques Le Goff ficou famoso por vários motivos, dois deles em termos metodológicos foram a promoção da história das mentalidades, e sua aproximação com a antropologia, e o conceito de duração histórica, principalmente os fatores de longa de duração. É dele, por exemplo, a análise que a Idade Média teria, de fato, terminado apenas depois da Revolução Francesa, porém ainda com resquícios em pleno século 20.
Em Heróis e maravilhas da Idade Média estão presentes todos esses conceitos, porém de forma reduzida, principalmente por conta que a maioria desses conceitos são explorados em outros livros de Le Goff, principalmente em O imaginário medieval. Então temos em mãos um livro que beira à divulgação científica.
Digo que beira, afinal a linguagem empregada é de rigor acadêmico, e os estudos apresentados, em quase todos os casos, são apresentados de forma minuciosa. É preciso lembrar que em nenhum momento Le Goff expõe seu arcabouço teórico, pelo menos não de forma clara e textual, assim sendo o livro passa a ser um meio termo entre um livro teórico e um livro de divulgação. É um bom texto para os bancos estudantis universitários e para professores se reciclarem.

Mas do que trata o texto? Le Goff faz uma análise de personagens e espaços que marcaram o imaginário medieval e que tiveram uma persistência em longa duração, alguns chegando até os nossos tempos. É preciso ressaltar que mesmo os personagens históricos – Carlos Magno, Rolando e “El Cid” Rodrigo Diaz de Vivar – são retratados a partir de sua perspectiva literária e imagética, e nunca como figura histórica, a exceção talvez de Carlos Magno.
Outra crítica pertinente ao texto é que ele é extremamente centrado na Europa Central, ou seja, o que hoje é a Alemanha, França, os Países Baixos e o norte da Itália. Quando trata de outras regiões, como a Ibéria e a Bretanha, Le Goff faz apenas pequenas análises – o capítulo dedicado a Robin Hood chega a ser desapontador – e sempre a partir do ponto de vista francês. Seria aqui uma veia nacionalista de Le Goff? Sobre Portugal, o Império Bizantino e os povos eslavos não há nenhuma história, nenhum personagem.

Para o público fora dos muros da Academia, Heróis e maravilhas da Idade Média é um livro encantador, pois apresenta um conceito muito difícil de aceitação, como a longa duração histórica e a aproximação da história com a antropologia, além de expor uma série de personagens fascinantes. Porém para algum estudioso já iniciado na historiografia do tema ele é limitado, mas não chega a ser desapontador. Uma boa leitura, um bom divertimento.

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