quarta-feira, 21 de maio de 2014

Diário de um Professor: O Fetiche do Diploma Universitário


Como se sabe, além de humilde blogueiro e professor, eu pego alguns trabalhos como redator e revisor de texto, afinal eu preciso viver de alguma coisa. Eu sempre recebo ofertas, também, como formatador de textos para teses de conclusão de curso e monografias. Aliás esse tipo de oferta tem cada vez crescido mais.
Eu não entendia muito bem porque, até meu último trabalho: uma pós-graduando em gestão de pessoas me pediu para revisar e formatar um artigo acadêmico cujo tema entre as aproximações entre liderança e poder, tema, surpreendentemente, que foi bem aprazível de ler e escrever sobre.

Uma das justificativas que a moça usou para me contratar era que não gostava de estudar e escrever, e uma de suas condições era que a linguagem não fosse muito formal. Na hora, minha cabeça deu um tilt. Não consigo entender como alguém que não gosta de estudar e escrever se arrisca em fazer algum tipo de especialização, afinal as mesmas são condições intrínsecas ao tipo de curso que ela queria fazer. Sobre a linguagem então, só vos pergunto: pode ser acadêmico e informal?
Percebi que o grande problema aqui não é ela, especificamente, mas todo o quadro em si. Depois da explosão de cursos universitários após a estabilização da moeda e a facilidade de acesso com o crescimento econômico dos últimos 15 anos, cada vez mais pessoas têm acesso para o tão sonhado diploma. E o como fazer para “escolher” os melhores profissionais para os melhores cargos, leia-se, como manter a concentração de renda e diminuir a mobilidade social? Simples, cada vez exigir mais e mais especializações, cursos, MBAs e afins.
A maioria absoluta das profissões que você um dia poderá exercer não depende de um diploma universitário, muito menos pós-graduação. Absolutamente nada contra conhecimento que as pessoas adquirem nesses cursos, afinal o conhecimento tem um poder de transformação incrível. Porém é preciso que quem faça esses cursos gerem conhecimento também, e não apenas peguem os diplomas e ponto final.
Aqui, é preciso separar a ciência, saber, da técnica, saber-fazer. Em um cenário ideal, espera-se um equilíbrio entre esses dois campos. No Brasil, por heranças lusitanas e coloniais, temos um verdadeiro desprezo com o saber técnico, aqui as pessoas batalham para serem engenheiros medíocres a serem grandes mecânicos, pois esses carregam em seu cerne uma “mancha” social.
Devemos valorizar as profissões técnicas, aproximar os vencimentos de alguém técnico de um “cientista”, um gerador e difusor do conhecimento, e não apenas criar um fetiche pelo diploma do ensino superior. Trata-se mais de especialização da mão de obra em campo amplo do que apenas gerar mais e mais diplomados e assim diminuir o abismo que separa aqueles que têm daqueles que não-tem.
Abaixo deixarei linkado um texto da jornalista Sabine Righetti da Folha de São Paulo e um vídeo do Canal do Pirulla, ambos se complementam e versam muito melhor do que eu.

Links:

Nenhum comentário:

Postar um comentário