O noticiário do
futebol internacional foi pego de surpresa hoje com notícia que o Clermont Foot
63, time da segunda divisão da liga francesa, contratou a portuguesa Helena
Costa como sua treinadora. Você, leitor, de daqui uns 10 anos vai achar isso
meio estranho, porém ela, em 2014, é a primeira mulher a treinar um time
profissional de futebol.
A treinadora, que tem
em seu currículo passagens pelas categorias de base do Benfica, e pelas
seleções femininas do Catar e do Irã, não possui experiência como jogadora
profissional, porém ela se preparou para a carreira como treinadora, é formada
pela Universidade Técnica de Lisboa, mestrado Faculdade de Motricidade Humana
da Universidade Técnica de Lisboa e doutorado pela Universidade Lusófona de
Lisboa. Além de cursos e participações de seminários promovidos pela Federação
Portuguesa de Futebol, pela FIFA e pela UEFA. Ou seja, experiência ela possui.
O futebol carrega em
si uma série de preconceitos em relação ao sexo e sexualidade. No começo do
futebol feminino, no Brasil, todas as jogadoras eram tachadas de sapatão e
masculinizadas. Até hoje não possuímos um liga profissional de futebol
feminino. Isso não é prerrogativa apenas do Brasil, não vemos grandes esforços
fora de campo na Europa para inserir a mulher no contexto do futebol, sempre
mostrada como belas torcedoras e apenas isso.
A maior tristeza é
quando tratamos de sexualidade. Futebol é coisa de homem macho, é um mantra
repetido à exaustação e aos quatro ventos. Existem homossexuais em todas as
esferas humanas, menos no futebol, isso não parece meio estranho? Por isso que
atitudes do ex-jogador da seleção alemã Thimas Hitzlsperger, que se assumiu
publicamente gay, é louvável.
E não é apenas no
futebol que esse sexismo e preconceito de gênero aparece, acaba sendo uma
característica geral do esporte em si. Vejam o automobilismo, cujo desempenho
maior é do carro, não do piloto, quantas pilotos – sim, feminino de piloto é
piloto – você conhece? Pouquíssimas, aposto. A mais famosa deve ser a Danica
Patrick, que é mais conhecida por ser bonita do que por sua capacidade como
esportista.
Vale lembrar que
homens treinam e times e esportistas femininas, e contrário, quantas
treinadoras de vôlei treinam um time masculino? Por que uma mulher não pode ser
treinadora de um homem? Seria por que, nesse caso, a mulher seria chefe do
homem? Percebem o absurdo?
E falar em esportes
mistos, então, nem pensar! É claro que existem diferenças fisiológicas e
biológicas entre homens e mulheres, negar isso seria negar, bem, a realidade,
porém haveriam formas de se driblar isso. O xadrez, por exemplo, que depende
unicamente da capacidade intelectual, tem campeonatos mistos, assim como o
tênis que tem jogos mistos entre duplas, e o hipismo não distingue gênero
também. Imaginem um revezamento na natação ou no atletismo com equipes mistas,
qual seria o grande problema disso?
O futebol, que é a
coisa mais importante dentre as coisas menos importantes, diria Nelson
Rodrigues, ainda apresenta um preconceito contra gênero horrorosa. Uma notícia
como essa, a contratação de Helena Costa pelo Clermont, deveria ser banal e
casual, mas ainda assim causa espanto. A treinadora Costa quebra uma pequena
barreira, porém com um grande salto.
Links:
Notícia na versão
online do Washington Post sobre a contratação de Helena Costa (em inglês): http://www.washingtonpost.com/blogs/early-lead/wp/2014/05/07/french-team-clermont-hires-helena-costa-as-first-female-coach-in-top-tier-european-soccer/
Notícia sobre a
contratação de Helena Costa no portal lusitano Record: http://www.record.xl.pt/Futebol/Internacional/franca/interior.aspx?content_id=881785
Notícia sobre a
contratação de Helena Costa no site da BBC (em inglês): http://www.bbc.com/sport/0/football/27306106
Verbete sobre Helena
Costa na Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Santos_e_Costa
Site oficial do
Clermont Foot 63 (em francês): http://www.clermontfoot.com/
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