Na semana passada as redes sociais, sempre elas, foram invadidas com a notícia-bomba que o MEC aprovou um projeto, com financiamento público, de uma autora de adaptar para os tempos ultra-pós-modernos alguns textos de Machado de Assis para que as crianças e adolescente possam se interessar em literatura e leitura.
Eu, sinceramente, não
entendi o fuzuê gerado por tal notícia. Eu estudei quase que toda a minha vida
escolar em um bom colégio dominicano em São Paulo, e mesmo ali, antro do
conservadorismo pedagógico, eu li adaptações e resumos de obras como Dom Quixote, Os Três Mosqueteiros, O
Último dos Moicanos, Moby Dick,
entre outros. Não me tornei um leitor limitado, muito pelo contrário, e nada me
impediu de ler, depois com mais maturidade, as obras completas citadas.
Essa ventilação toda
sobre a tal notícia é mais um e outro exemplo dos tempos de hiper-realidade textual, que é a
internet. Todo mundo virou especialista e comentador de qualquer assunto, desde
física quântica até teologia. Somos todos comentadores. É impressionante as
toneladas de baboseiras que se escuta, ou melhor, se lê por aqui.
Na minha modesta
opinião, não há de ruim em fazer desses resumos adaptações – tanto literárias,
quanto teatrais e cinematográficas – de grandes obras da literatura. Eu sempre
dou exemplo do cinema. Você com seus 14, 15 anos, não acordou um dia e disse:
“A partir de agora sou vou ver filme do Goddard, do Bergman e do Fellini!”. Nem
você se fez isso, nem sua escola, nem seus pais.
Por quê? Simples,
porque na época você tinha a capacidade de entender essas obras em suas porções
semânticas e estéticas. Você imagina algum professor passando uma prova sobre
os significados estéticos e psicológicos do filme, filmaço, Persona, de Ingmar Bergman, em uma sala
de Ensino Médio? E por que fazer isso com, por exemplo, Dom Casmurro, obra tão complexa e profunda quanto a película
citada.
Uma outra pergunta, o
que seria melhor para divulgar a ciência para os jovens obriga-los a lerem Os Princípios Matemáticos, de Newton, ou
apresentar algum material de divulgação, como filmes de ficção-científica,
documentários e seriados educacionais? Aposto que a opção imagética foi a
escolhida.
Além dessa questão
pedagógica, afinal a escola é o primeiro passo introdutório para a vida social
que teremos, há também a questão de não termos um verdadeiro cânone literário
brasileiro, onde estão concatenados os livros bases de nossa cultura. Lembrando
que não somos um país de leitores.
Nosso cânone, então,
passa ser aquela lista de leitura obrigatória que os bons vestibulares nos
pedem. Porém, esses livros pedidos, são o mais fino que a nossa literatura
produz, e lembrando que a maioria dos estudantes não lê todos os livros de
todas as listas, muitos acabam pegando resumos e vendo adaptações
cinematográficas dos livros.
Eu, às vezes, quase
sempre, não entendo a reação das pessoas detrás de um teclado e de um monitor.
Todos somos doutos de tudo na internet. Separar o joio do trigo está difícil.
E, para finalizar, um questionamento, desses que reclamaram das adaptações,
quantos realmente leram Machado de Assis?
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