quinta-feira, 22 de maio de 2014

Diário de um Professor: Você Trabalha ou Só Dá Aula?


Estreando a sessão fixa Diário de um Professor, que vão ser crônicas, além de outros textos, sobre meu cotidiano como professor, além de minhas ideias sobre pedagogia, ensino e o espaço escolar, resolvi responder uma das perguntas que mais ouvi em toda a minha experiência ministrando aula: Professor, você trabalha ou só dá aula?
Essa pergunta pode chocar alguém que é mais velho, ou que não tem a mínima ligação com o magistério, porém essa é uma das perguntas mais frequentes dos alunos. Isso reflete a posição que a figura do professor ocupa no nosso imaginário: uma pessoa benevolente, geralmente incrustrada de uma autoridade moral, que abnegadamente espalha seus saberes para as gerações vindouras. A realidade, todavia, é muito mais profunda do que essa.

Ser professor é uma profissão comum, como qualquer outra. Nós, que abraçamos o ensino e a pedagogia, escolhemos o caminho da educação, temos alguns elementos que nos são intrínsecos, porém ainda assim somos pessoas comuns.
Essa pergunta, inclusive, apresenta uma generalização que nem sempre é possível existir: a que todo professor pode ensinar para todo aluno. Isso é uma das maiores falácias que existem em relação à educação. Há professores que preferem, e são melhores, no ensino fundamental, ou no ensino médio, ou no ensino superior. Fora aqueles que são melhores professores no ensino técnico, ou aqueles ainda, que têm mais facilidade em ministrar cursos livres.
Não encarar o magistério, em suas múltiplas manifestações, como um ramo profissional é, no mínimo, perigoso. Afinal solidifica um discurso que o professor é um herói, um ser acima de outros, comuns, que escolhe um caminho árduo. E qual o problema disso? A perpetuação da marginalização aos vencimentos e reconhecimentos ao professor.
Não se trata apenas de melhores salários, basta ver qualquer greve, ou qualquer bate-papo na sala do café nas instituições privadas, para perceber que nós não queremos apenas mais dinheiro, queremos sim é ter condições para exercermos a nossa profissão, e assim educar e mudar aqueles seres humanos nas salas de aula.
Educar é uma tarefa angustiante, pois é depositado a nós os filhos e filhas das mais diversas pessoas, e assim temas a tarefa de introduzir essas crianças, jovens e adultos, em um mundo, seja ele social, intelectual ou profissional. O professor, assim como o médico, é o profissional que mais “ama” o seu “cliente”, afinal se não o fizer, acaba por não exercer positivamente a sua profissão.

Sim, eu trabalho. Sim, eu dou aula. E uma coisa é a outra. Por mais difícil que possa parecer, lecionar é uma atividade que requer trabalho, preparação e treinamento. Não é apenas abrir a boca e “distribuir conhecimento”, isso é, talvez, filosofar como os antigos. E um talvez enorme.

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