quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Esquizofrenia Eleitoral Paulista


Nasci em São Paulo, ali no antigo Hospital Matarazzo, há 32 anos. De lá para os nossos dias, a dita “Locomotiva do Brasil” (termo que me causa mais náuseas do que comer um churrasquinho grego do Largo do Paissandu) teve como ocupantes do Palácio dos Bandeirantes os distintos cavalheiros: José Maria Marin, André Franco Montoro, Orestes Quércia, Luís Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin I, Gerado Alckmin II, Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin III.
Com a exceção de Marin, e isso pode soar BEM estranho, todos governadores são da mesma corrente política: uma direita conservadora travestida de direita liberal. Marin, como todos sabemos, assumiu seu mandato pela ARENA, depois do dr. Paulo Maluf ter renunciado.

Ou seja, há 31 anos que não há no estado de São Paulo NENHUMA alternância de poder, algo tão aclamado pelo partido majoritário em São Paulo, o PSDB.
Ontem, dia 09, saiu mais uma pesquisa de intenção de voto para o pleito desse ano, e sem nenhum espanto temos o candidato da situação com 48% das intenções de voto, com margem de erro de dois pontos percentuais para cima e para baixo, tornando assim um governo Geraldo Alckmin IV virtualmente eleito e em primeiro turno.
Se eu fosse um ET, quem me dera às vezes..., e visse esses números, acharia que a situação em São Paulo vai às mil maravilhas. Com excelência em todas as áreas competentes ao estado – se você tiver qualquer dúvida sobre isso eu recomendo que você leia os artigos 24 a 28 da Constituição federal (link está no final do texto).
Basta ler e ver que não está...
Então, caro leitor, eu me pergunto, por que ainda elegemos os mesmos sujeitos políticos para governar o nosso (querido?) estado?
Bem, primeiro eu recomendo que você leia o artigo Tucanistão, do professor de filosofia da USP e colunista da Folha de São Paulo linkado abaixo. Agora vamos às minhas impressões: durante um bom período da minha vida morei fora de São Paulo, então com a distância pude ter uma visão mais objetiva desse fenômeno, que, aliás não é da Nova República, se olharmos todos os governadores do estado durante o período republicano, todos, repito, TODOS, eram de partidos conservadores.
Mas falemos apenas da Nova República, acredito que ainda exista em São Paulo, principalmente em sua capital, e aqui mais individualizado em alguns poucos bairros detentores de muita grana, uma mentalidade de medo e tremor à mudança. Para isso basta ver as reações aos governos municipais que não eram do espectro da direita conservadora (Luiza Erundina, Martha Suplicy e Fernando Haddad), que eram/são no mínimo de ódio. Fora o ódio ao Lula e ao PT de forma em geral. Nem vamos falar dos partidos de esquerda de fato, porque se há um ódio a um partido que cada vez mais se aproxima do espectro esperado pelos paulista(nos)s.
Há em São Paulo um forte preconceito contra o diferente, contra o outro. Nós chamamos pernambucanos e gaúchos de bairristas, por eles terem orgulho de seus estados e de suas culturas, e nós, paulistas, temos o que? Enfiamos goela abaixo do Brasil o mito que os bandeirantes, nossa sede estadual homenageia esses facínoras, foram os grandes colonizadores e desbravadores do Brasil, que não época nem existia, ou que a Independência só podia ter ocorrido ás margens do Ipiranga, canalizado, por sinal, ou ainda, que a República só foi viável graças à Convenção de Itu, que era contra a abolição dos escravos.
Todavia, nos esquecemos de que a nossa gloriosa, e fracassada, Revolução de 1932, temos até feriado, obelisco e avenida, em sua homenagem, foi uma tentativa reacionária de retirar do governo um grupo que quebrou uma lógica oligárquica. Que partiu de São Paulo, e de Minas Gerais, os primeiros aplausos ao Golpe de 1964, que a nossa tão amada e querida Polícia Militar tem em seu brasão 18 estrelas que representam feitos importantes que ele ajudou a “combater” e entre elas estão: a Guerra do Paraguai, Revolta da Armada, Revolta da Chibata, combate a Canudos, repressão à greve operária de 1917, combate à Coluna Prestes, e, a cereja do bolo, a participação ao Golpe de 1964. Esses são alguns dos marcos históricos que a nossa PM orgulha-se de ter participado (negativamente).
Além dessa perpetuação conservadora no poder executivo, algo mais absurdo se dá no legislativo, de âmbito federal: é em São Paulo onde estão concentradas as maiores bancadas de deputados mais à esquerda do espectro político. E lembrando que temos como senador da república, em seu terceiro mandato e concorrendo mais uma vez à reeleição, Eduardo Suplicy, um dos grandes nomes dentro do PT.
Quer dizer: o que serve para nos representar em Brasília, não nos serve para nos representar no Palácio dos Bandeirantes e na Assembleia Legislativa? Alguém pode me explicar a lógica de tudo isso? Eu, simplesmente, desisti de entender os paulistas e sua esquizofrenia eleitoral.

Link:
Constituição Federal: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Reportagem sobre a pesquisa de intenção de voto para governador de São Paulo publicado no último dia 09: http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/sao-paulo/ibope-em-sp-alckmin-tem-48-e-venceria-no-primeiro-turno-10092014

Artigo Tucanistão, de Vladimir Safatle, publicado no site da Folha de São Paulo em 05/08/2014: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2014/08/1495783-tucanistao.shtml

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