Nasci em São Paulo, ali no antigo
Hospital Matarazzo, há 32 anos. De lá para os nossos dias, a dita “Locomotiva
do Brasil” (termo que me causa mais náuseas do que comer um churrasquinho grego
do Largo do Paissandu) teve como ocupantes do Palácio dos Bandeirantes os
distintos cavalheiros: José Maria Marin, André Franco Montoro, Orestes Quércia,
Luís Antônio Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin I, Gerado Alckmin II,
Cláudio Lembo, José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin III.
Com a exceção de Marin, e isso
pode soar BEM estranho, todos governadores são da mesma corrente política: uma
direita conservadora travestida de direita liberal. Marin, como todos sabemos,
assumiu seu mandato pela ARENA, depois do dr. Paulo Maluf ter renunciado.
Ou seja, há 31 anos que não há no
estado de São Paulo NENHUMA alternância de poder, algo tão aclamado pelo
partido majoritário em São Paulo, o PSDB.
Ontem, dia 09, saiu mais uma
pesquisa de intenção de voto para o pleito desse ano, e sem nenhum espanto
temos o candidato da situação com 48% das intenções de voto, com margem de erro
de dois pontos percentuais para cima e para baixo, tornando assim um governo
Geraldo Alckmin IV virtualmente eleito e em primeiro turno.
Se eu fosse um ET, quem me dera às
vezes..., e visse esses números, acharia que a situação em São Paulo vai às mil
maravilhas. Com excelência em todas as áreas competentes ao estado – se você
tiver qualquer dúvida sobre isso eu recomendo que você leia os artigos 24 a 28
da Constituição federal (link está no final do texto).
Basta ler e ver que não está...
Então, caro leitor, eu me
pergunto, por que ainda elegemos os mesmos sujeitos políticos para governar o
nosso (querido?) estado?
Bem, primeiro eu recomendo que você
leia o artigo Tucanistão, do
professor de filosofia da USP e colunista da Folha de São Paulo linkado abaixo.
Agora vamos às minhas impressões: durante um bom período da minha vida morei
fora de São Paulo, então com a distância pude ter uma visão mais objetiva desse
fenômeno, que, aliás não é da Nova República, se olharmos todos os governadores
do estado durante o período republicano, todos, repito, TODOS, eram de partidos
conservadores.
Mas falemos apenas da Nova
República, acredito que ainda exista em São Paulo, principalmente em sua
capital, e aqui mais individualizado em alguns poucos bairros detentores de
muita grana, uma mentalidade de medo e tremor à mudança. Para isso basta ver as
reações aos governos municipais que não eram do espectro da direita conservadora
(Luiza Erundina, Martha Suplicy e Fernando Haddad), que eram/são no mínimo de
ódio. Fora o ódio ao Lula e ao PT de forma em geral. Nem vamos falar dos
partidos de esquerda de fato, porque
se há um ódio a um partido que cada vez mais se aproxima do espectro esperado
pelos paulista(nos)s.
Há em São Paulo um forte
preconceito contra o diferente, contra o outro. Nós chamamos pernambucanos e
gaúchos de bairristas, por eles terem orgulho de seus estados e de suas
culturas, e nós, paulistas, temos o que? Enfiamos goela abaixo do Brasil o mito
que os bandeirantes, nossa sede estadual homenageia esses facínoras, foram os
grandes colonizadores e desbravadores do Brasil, que não época nem existia, ou
que a Independência só podia ter ocorrido ás margens do Ipiranga, canalizado,
por sinal, ou ainda, que a República só foi viável graças à Convenção de Itu,
que era contra a abolição dos escravos.
Todavia, nos esquecemos de que a
nossa gloriosa, e fracassada, Revolução de 1932, temos até feriado, obelisco e
avenida, em sua homenagem, foi uma tentativa reacionária de retirar do governo
um grupo que quebrou uma lógica oligárquica. Que partiu de São Paulo, e de
Minas Gerais, os primeiros aplausos ao Golpe de 1964, que a nossa tão amada e
querida Polícia Militar tem em seu brasão 18 estrelas que representam feitos
importantes que ele ajudou a “combater” e entre elas estão: a Guerra do
Paraguai, Revolta da Armada, Revolta da Chibata, combate a Canudos, repressão à
greve operária de 1917, combate à Coluna Prestes, e, a cereja do bolo, a
participação ao Golpe de 1964. Esses são alguns dos marcos históricos que a
nossa PM orgulha-se de ter participado (negativamente).
Além dessa perpetuação
conservadora no poder executivo, algo mais absurdo se dá no legislativo, de
âmbito federal: é em São Paulo onde estão concentradas as maiores bancadas de
deputados mais à esquerda do espectro político. E lembrando que temos como
senador da república, em seu terceiro mandato e concorrendo mais uma vez à
reeleição, Eduardo Suplicy, um dos grandes nomes dentro do PT.
Quer dizer: o que serve para nos
representar em Brasília, não nos serve para nos representar no Palácio dos
Bandeirantes e na Assembleia Legislativa? Alguém pode me explicar a lógica de
tudo isso? Eu, simplesmente, desisti de entender os paulistas e sua
esquizofrenia eleitoral.
Link:
Constituição Federal:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Reportagem sobre a pesquisa de
intenção de voto para governador de São Paulo publicado no último dia 09: http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/sao-paulo/ibope-em-sp-alckmin-tem-48-e-venceria-no-primeiro-turno-10092014
Artigo Tucanistão, de Vladimir Safatle, publicado no site da Folha de São
Paulo em 05/08/2014: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2014/08/1495783-tucanistao.shtml
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