quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Diário de um Professor: Secret, Cyberbullying e a Educação

Para começar esse texto eu gostaria de evocar o mestre Arthur Schopenhauer: “Em primeiro lugar, portanto, deveria ser destruído de toda velhacaria literária: o anonimato. (...) No entanto, (...) o anonimato serve apenas para subtrair toda responsabilidade a quem não é capaz de defender o que diz, ou talvez até ocultar o opróbio de quem é venal e infame o suficiente para apregoar em público (...). Amiúde o anonimato serve meramente para encobrir a obscuridade, a insignificância e a incompetência do julgador. (...) Pois quem é honesto não ataca sob máscara e capuz pessoas que passeiam com a face descoberta (...)”. Apesar de se tratar de um escrito do século 19, e falar mais sobre a criação literária, esse trecho de Sobre o Ofício do Escritor não poderia estar mais fresco e atual.
Principalmente com a disseminação do aplicativo Secret, que pelo meu conhecimento permite que você faça ofensas e injúrias, de forma anônima, e que isso seja compartilhado pelas redes sociais. Corrijam-me, se errado.
Nenhum dos meus alunos foi diretamente atingido por tal aplicativo – que, convenhamos, é meio babaca – porém acompanhei um caso na minha família de quem sofreu algum tipo de prejuízo com tal aplicativo.
O episódio fora o seguinte: crianças de um colégio tradicional de São Paulo resolveram criar uma lista das pessoas mais esquisitas da escola, e esse meu parente acabou entrando na malha-fina. Essa criança, obviamente, apresentou pequenas mudanças comportamentais, de aprendizado e até possíveis danos sentimentais e emocionais.
A escola, obviamente, não fez nada, afirmando que a responsabilidade seria ou dos responsáveis dos bullys ou da própria empresa que desenvolve o aplicativo, ou de quem o disponibiliza. Basicamente, a escola deu uma de Pôncio Pilatos: eu lavo as minhas mãos.
A escola, idealmente, deveria ser uma extensão da casa e um espaço de múltipla-convivência social, ou seja, ela deveria garantir aos seus alunos um modelo de conduta e de sociabilidade, porém com a mercantilização corrente do sistema de ensino, basta ver a supervalorização das apostilas e da questão do resultado e do desempenho escolar, as escolas estão perdendo esse caráter social e apenas criando marcadores excepcionais de cruzinhas. Aos pais dos alunos, é preciso haver vigilância, afinal é sim de responsabilidade deles o que os filhos fazem ou deixam e fazer.
Muitas pessoas que não estão em idade escolar tende a pensar que o bullying é uma frescura, e que nós temos que deixar de lado, afinal nos nossos tempos a gente resolvia qualquer querela com meia dúzia de sopapos. Acho isso de uma falta de discernimento incrível, é simplesmente não entender que TUDO no planeta evolui, e que a pedagogia e a psicologia também evoluem. Não lidar efusivamente é quase igual a não tratar uma doença nova, ou recentemente descoberta, por que no meu tempo...

Eu, entretanto, acho que os grandes responsáveis são dos desenvolvedores desse aplicativo. A pergunta que eu faço é: não seria melhor empregado toda essa força criativa e tempo para fazer algo que seja realmente útil e não algo que possa disseminar tanto ódio e babaquice pelo mundo?

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