Uma das grandes preocupações dos
pais hoje em dia, no que tange à educação e a pedagogia, é a qualidade da
escola que seus filhos frequentam. Querem uma escola forte, com uma forte
preocupação com a disciplina e que seja um agente na inserção social das
crianças. Esse é a definição, rasa, eu sei, de uma escola forte. De escola,
enfim, tradicional. Há um detalhe nesse tipo de escola, nesse tipo de pedagogia,
que é a padronização. A escola tradicional está calcada em ideias do Iluminismo
que tendem ao universalismo do que ao individualismo, dessa forma esse tipo de
escola faz com todos os alunos tenham o mesmo conteúdo, com o mesmo método, com
o mesmo professor e, e aqui está um dos seus maiores equívocos, os alunos são
avaliados da mesma forma contando com o mesmo peso para as matérias.
O grande problema desse tipo de
avaliação é que há um escalonamento das matérias, elas tendem a se dividir em
três grandes grupos: línguas e matemática, em primeiro plano, ciências sociais
e naturais, em segundo plano, e, em terceiro plano, as artes e a educação
física. Se você reparar, até a carga de aulas segue esse escalonamento.
A educação em massa, portanto, tem
como objetivo formar pessoas que tenham domínio em sua língua materna, afinal
uma língua estrangeira não é considerada uma matéria do primeiro escalão, e que
tenham raciocínio lógico, depois de 12 anos de aprendizado matemático, o mínimo
que se espera de um aluno é que eles tenham raciocínio lógico. Veja, essa não é
a minha expectativa, mas é a proposta pedagógica desse modelo.
Agora peguemos uma criança que
apresente alguma habilidade fora desse padrão, que apresente habilidades em
artes e em algum esporte, por exemplo, o que a escola faz com essa criança?
Nada... Acredito que não seja possível uma personalização total do sistema de
ensino como um todo, porém, conseguiríamos fazer um ajuste dessa hierarquia,
pensando em níveis não verticais, e sim horizontais, fazendo com que os alunos
sejam avaliados, e portanto classificados, de maneira mais honesta e
verdadeira, de acordo com a sua habilidade natural. Dessa forma evitaríamos que
a experiência escolar, que deveria ser excitante e edificante, não se torne
enfadonha e um peso, principalmente para aqueles alunos que apresentem um alto
grau de criatividade, porque essa massificação e estratificação da educação
torna a criatividade quase impraticável.
Quantos talentos não perdemos, nas
mais diversas áreas, ao longo do caminho escolar sufocados em meio de tantas
aulas de português e matemática? E mesmo para aqueles que são criativos - um
erro muito comum entre nós é atribuir às artes a primazia da criatividade,
porém um físico ou um químico não precisa de uma boa dose de criatividade nos
seus ofícios? Um executivo que apresente novas formas, positivas, de
gerenciamento não é criativo? - nessas duas áreas também não são desafiados a
pensar de maneira nova e empolgante do que a velha forma de aulas expositivas,
lição de casa e avaliação? Quantas pessoas que apresentam uma habilidade forte
em português são desafiadas a serem escritores ou poetas, ou jornalistas?
Se formos a fundo nesse problema
perceberemos que a raiz de todos esses amordaçamento do ensino se encontra
fundamentado em dois grandes problemas: o uso social da escola, a escola
pensando nos moldes iluministas tem como primazia a formação não de pessoas,
mas sim de cidadãos, ou seja, pessoas inseridas dentro de um determinando
sistema político-social, que saiba reconhecer os símbolos e a história de sua
nação (já reparam o quanto o discurso das escolas é carregado de um
nacionalismo frouxo?), e que saibam interagir adequadamente em sociedade, de
acordo com as expectativas que essa tenha sobre os seus indivíduos; e segundo,
o fetiche pelo desempenho escolar, ou seja, ter boas notas nas matérias de peso
- eu, pelo menos, nunca vi ninguém elogiar o filho por ir bem em educação
física ou artes; ou ainda o caminho contrário: buscar algum tipo de reforço
escolar nessas matérias quando, por acaso cósmico, o aluno não apresenta o
desempenho esperado (geralmente, o máximo possível). Esse fetiche pelo
desempenho escolar, aliás, será tratado em um texto aqui em breve.
O que proponho não é uma mudança
total no sistema tradicional de ensino, há muitas coisas boas nesse tipo de
ensino, mas sim uma adequação para termos o mínimo de individualização,
poderíamos apresentar diversos tipos de ensino, onde o aluno, orientado por
pais e professores, pudesse escolher qual tipo de ensino lhe fosse mais
adequado. Essa não é uma mudança fácil, pois ela passa por elementos que estão
fora dos muros escolares, como a valorização do trabalho intelectual ante o
trabalho manual, além de uma mudança do papel da escola: o que devemos ensinar
para os nossos alunos e quais as nossas expectavas com a experiência escolar.
Devemos formar pessoas, cidadãos ou profissionais?
Link:
Escolas
Matam a Criatividade? – Palestra de Ken Robinson no TEDTalks: https://www.youtube.com/watch?v=aQym7WkF5ks
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