sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Afastamentos

Tudo aconteceu muito rápido, como, aliás, quase tudo nesse mundo hiperconectado e de relações tão incrivelmente diluídas e difusas. Hoje, sabemos, por fotos, o que todos comemos em uma reunião casual, mas, sem ofender, realmente nos relacionamos entre si? Pois é.
Voltando.
Bastaram uma eleição e um punhado de investigações político-juridícas para uma dura realidade bater bem à minha cara: minhas amizades começaram a de fato rarearam, ou simplesmente, acabaram. Não ponho na conta, tal fenômeno, da suposta polarização partidária que vivemos, as ideologias políticas aportadas em bandeiras partidárias no Brasil são meramente fugazes. As diferenças fraternas eram, são, muito mais profundas do que qualquer derby político.

Minhas amizades têm, basicamente, três grandes raízes: pessoas que conheci durante o ensino base em Sampa, pessoas que conheci em Porto Alegre quando morei por lá e pessoas que conheci durante o meu tempo na universidade.
Com todas as raízes eu tive um afastamento, seja geográfico ou ideológico, e por diversos motivos, porém o mais profundo afastamento se dá com as pessoas do primeiro grupo. Infelizmente, um processo que se torna completamente irreversível. A mudança operou de maneira profunda: estudei em um tradicional colégio católico em São Paulo, cujo horizonte social era basicamente branco e elitista, me incluo nesse padrão, de alguma forma.
Porém, mudei.
Minha formação, principalmente literária e filosófica, e minha vida me levaram a me tornar um humanista e livre pensador, enquanto a maioria das pessoas dessa minha primeira fase ainda parece meio presa à formas de pensar cristalinas e conservadoras. Acredito que esse estranhamento, esse não reconhecimento como um par por compartilharmos uma história remota, meu lado historiador me propele a dizer que essa história não se torna uma História, porém isso é uma conversa para outros tempos, também acontece deles para comigo. Acabamos virando “nós” e “eles”, o que por si só já cria uma enorme muralha para qualquer tipo de convivência.
Durante as minhas leituras dos clássicos, a amizade é sempre vista como uma pedra fundamental para a felicidade. Como sabemos, citando o poeta, eu consigo ser feliz o tempo inteiro, então me diviso de fronte ao espelho: será esse afastamento, metafísico e físico, de amigos outrora tão queridos, verdadeiramente queridos, que me impossibilita de ter alguma felicidade mais plena e duradoura?
Não sei dizer... mas ganho um bem inestimável em tempos de som e fúria: o silêncio.


E o resto é vida que segue.

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