Tudo aconteceu muito rápido, como,
aliás, quase tudo nesse mundo hiperconectado e de relações tão incrivelmente
diluídas e difusas. Hoje, sabemos, por fotos, o que todos comemos em uma
reunião casual, mas, sem ofender, realmente nos relacionamos entre si? Pois é.
Voltando.
Bastaram uma eleição e um punhado
de investigações político-juridícas para uma dura realidade bater bem à minha
cara: minhas amizades começaram a de fato rarearam, ou simplesmente, acabaram.
Não ponho na conta, tal fenômeno, da suposta polarização partidária que
vivemos, as ideologias políticas aportadas em bandeiras partidárias no Brasil
são meramente fugazes. As diferenças fraternas eram, são, muito mais profundas
do que qualquer derby político.
Minhas amizades têm, basicamente,
três grandes raízes: pessoas que conheci durante o ensino base em Sampa,
pessoas que conheci em Porto Alegre quando morei por lá e pessoas que conheci
durante o meu tempo na universidade.
Com todas as raízes eu tive um
afastamento, seja geográfico ou ideológico, e por diversos motivos, porém o
mais profundo afastamento se dá com as pessoas do primeiro grupo. Infelizmente,
um processo que se torna completamente irreversível. A mudança operou de
maneira profunda: estudei em um tradicional colégio católico em São Paulo, cujo
horizonte social era basicamente branco e elitista, me incluo nesse padrão, de
alguma forma.
Porém, mudei.
Minha formação, principalmente
literária e filosófica, e minha vida me levaram a me tornar um humanista e
livre pensador, enquanto a maioria das pessoas dessa minha primeira fase ainda
parece meio presa à formas de pensar cristalinas e conservadoras. Acredito que
esse estranhamento, esse não reconhecimento como um par por compartilharmos uma
história remota, meu lado historiador me propele a dizer que essa história não
se torna uma História, porém isso é uma conversa para outros tempos, também
acontece deles para comigo. Acabamos virando “nós” e “eles”, o que por si só já
cria uma enorme muralha para qualquer tipo de convivência.
Durante as minhas leituras dos
clássicos, a amizade é sempre vista como uma pedra fundamental para a
felicidade. Como sabemos, citando o poeta, eu consigo ser feliz o tempo
inteiro, então me diviso de fronte ao espelho: será esse afastamento,
metafísico e físico, de amigos outrora tão queridos, verdadeiramente queridos, que
me impossibilita de ter alguma felicidade mais plena e duradoura?
Não sei dizer... mas ganho um bem
inestimável em tempos de som e fúria: o silêncio.
E o resto é vida que segue.
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